sábado, novembro 27, 2004

Entre parentes

As seguintes canções foram feitas sem influência uma sobre a outra, mas possuem sinistras similaridades siamesas. Confiram, deliciem-se e adotem olhares suspeitos para os sujeitos ocultos e os objetos inanimados.


O PIANO ANDOU BEBENDO

O piano andou bebendo
Minha gravata caiu no sono
E a banda voltou pra capital
A jukebox quer tirar uma água do joelho
E o carpet precisa cortar o cabelo
Já o holofote parece um fugitivo do presídio
Porque o telefone está sem cigarros
E a sacada está na correria
E o piano anda de porre
E os cardápios estão morrendo de frio
E o iluminador é cego de um olho
E não se enxerga com o outro
E o afinador de piano usa aparelho no ouvido
E veio com sua mãe a tiracolo
E o piano está de porre
Porque o leão-de-chácara pratica sumô
E o proprietário tem a mente em miniatura
Com um QI de toco de cerca
Pois o piano anda de porre
E não se encontra a garçonete
Nem com um detetor de radiação
Ela odeia você e seus amigos
E não tem como se servir sem ela
E a bilheteria está babando
E as banquetas estão em chamas
E os jornais se rasgaram de dar risada
E os cinzeiros já se aposentaram
Tudo porque o piano bebeu
Não fui eu, não fui eu...


Tom Waits

versão brasileira: Marcos Prado & Ivan Justen Santana

***

crowley´s home

cresce capim no meu carpet
as cortinas escorrem pela janela
os rodapés sobem pelas paredes
o sofá é tragado pelo piso movediço
outono dos lustres: caem lâmpadas

a estante me hipnotizou e está em posição de ataque
a banheira prepara o bote
a porta da cozinha me mastiga o estômago
a mesa engatinha pelo corredor
a cadeira saltou com os quatro pés no meu peito
sangue jorra pelas tomadas
os quadros fogem da realidade
saio voando pela varanda
saio voando pela varanda
saio voando pela varanda


Marcos Prado & Edson de Vulcanis

3 comentários:

Ratapulgo disse...

excelente! gostei mesmo
"a mesa engatinha pelo corredor
a cadeira saltou com os quatro pés no meu peito
sangue jorra pelas tomadas
os quadros fogem da realidade"

foi feito depois do TW?

a paranóia parece mais my home smoked crack, not me, not me

Ivan disse...

Rata: a canção do Tom Waits foi lançada em 1976 (Álbum Small Change).

O poema do Marcos e do Edson é imemorial, mas foi publicado em 1995.

Por volta dessa época vi as semelhanças, mas eles ainda não conheciam a canção.

Radiocaos disse...

prosopopeia pura