quarta-feira, novembro 10, 2004

Joachim Du Bellay (*1525 - †1560)

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(mais um soneto em três cores...)


Si nostre vie est moins qu'une journée...


Si nostre vie est moins qu'une journée
En l'eternel, si l'an qui faict le tour
Chasse nos jours sans espoir de retour,
Si périssable est toute chose née,

Que songes-tu, mon ame emprisonnée ?
Pourquoy te plaist l'obscur de nostre jour,
Si pour voler en un plus cler sejour,
Tu as au dos l'aele bien empanée ?

La, est le bien que tout esprit desire,
La, le repos où tout le monde aspire,
La, est l'amour, la, le plaisir encore.

La, ô mon ame au plus hault ciel guidée !
Tu y pouras recongnoistre l'Idée
De la beauté, qu'en ce monde j'adore.

(1550)

***

Se a nossa vida é menos do que uma jornada
No infinito, se o ano quando reinicia
Nos leva os dias só deixando nostalgia,
Se qualquer coisa ao nascer já está condenada,

Com o que tu sonhas, minha alma aprisionada?
Por que te agrada a escuridão do nosso dia,
Se a fim de voar a mais brilhante moradia
Tu tens no dorso essa asa tão bem empinada?

Lá está o bem que todo espírito deseja,
Lá está o repouso que todo mundo almeja,
Lá o amor, lá o prazer também tem o seu canto.

Lá, ó minha alma, guiada ao céu mais altivo,
Reconhecerás ali o Ideal mais vivo
Da beleza, que neste mundo eu amo tanto.


***

Se a nossa vida não passa duma noitada
Comparada ao eterno, se o ano zera os dias
Comendo o tempo sem deixar gosto de nada,
Se carnes hoje quentes logo acabam frias,

Que delírio é esse, hein, minha alma amarrada?
Por que tão alegrinha nas tardes vazias,
Se pra estar pronta pra folia imaginada
Você vai costurando tantas fantasias?

Festa (!) onde a presença de espírito é bem-vinda,
Festa onde há sossego e também o diabo a quatro,
Festa onde existe prazer e existe amor ainda,

Festa, ô minha alma, onde o seu fino trato
Pode reconhecer aquela Idéia linda

Que aqui mesmo no mundo cão eu idolatro.



Versões Brasileiras: Ivan Justen Santana

1997

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