quinta-feira, novembro 11, 2004

Eu sou o homem mosca

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Muito bem: ninguém pediu, mas aqui vai uma postagem quilométrica sobre mim, pra vocês quem sabe entenderem porque esse web log tem o nome esdrúxulo que tem.

Vamos começar tentando relatar o sonho da noite passada, mas nada do estilo Jack Kerouac (Book of dreams), já que pra mim o melhor prosador da geração beat é o William Burroughs, assim como o melhor poeta é o Lawrence Ferlinghetti (o Ginsberg perde de longe).

Acabei de esquecer a primeira parte do sonho: só lembro que então eu estava numa janela e aí como de costume saí voando (é costume quando se trata dos meus sonhos eu esquecê-los instantaneamente, além de olhar por janelas e sair voando como se estivesse nadando no ar).

Logo encasquetei que era o super-homem e precisava apagar um incêndio nalgum lugar (uma tragédia faiscante causada por péssimas instalações elétricas que estavam fritando dúzias de pessoas a cada momento que passava), mas então sobrevoei uma quadra de colégio e lindas garotas estavam praticando handball: maliciosamente voei até a bunda duma delas e engolfei-a nos meus braços (ela parecia estranhamente uma garota carioca que ainda não conheço de vista): dali em diante resolvi esquecer o incêndio que tomava proporções dantescas e me concentrar inteiramente no vôo hipererótico com a belezura, que despi selvagem e aí me enfiei com ela numa espécie de escaninho de concreto bem apertado, onde estávamos, bem, como direi, brincando de bicho de quatro pernas, quando percebi que eu estava mesmo era todo encolhido e suado no sofá da sala do apartamento da minha mãe, onde tenho capotado por uns tempos. Um sonho realmente sensacional... Ah, lembrei da primeira parte:

Eu estava num local próximo ao que parecia ser a Pedreira Paulo Leminski (espaço enorme aqui em Curitiba onde acontecem shows) e escutava os Doors lá no palco da Pedreira tocando uma canção: a canção era do Walmor, o melhor guitarrista que eu já vi tocar na minha frente, e ele estava por ali sem saber direito por que os Doors executavam sua canção: todo mundo (inclusive eu) estava fumando maconha e rindo, e então entramos num carro que ficou lotado e depois subimos ao apartamento não sei de quem, onde olhei pela janela...


Não há motivo nenhum para eu fazer isso agora, mas vou revelar os blogs que leio bem regularmente:

http://intimaloucura.blogspot.com

http://www.monti.blogger.com.br (blog de um amigo meu que confessa que não lê blogs com freqüência: já eu tenho devorado aplicadamente a literatura virtual...)

http://copy-paste.blogspot.com (esse eu recomendo muito, pois é uma espécie de digesto de toda a blogsfera: colam por ali coisas interessantes de outros blogs, então é um bom lugar pra garimpar e vadiar através de textos diversos)

http://orabolas.blogspot.com

http://www.mordida.blogger.com.br (minha banda favorita)


Por último, mas talvez não o suficiente pra matar esse meu surto textual, aqui vai um trecho bacana que achei num livro, e que fala um pouco poética e loucamente sobre como surgem versos na cabeça de uma criatura humana, e fala também simpaticamente duma mosca (não contem pra ninguém, mas eu sou o homem-mosca, da canção da banda Criaturas, que um dia eu vou escrever sobre ela) e (repetindo) fala sobre versos, que são a tônica aqui nesse (na boa expressão de uma amiga minha) blogspício:

"Eis como nasceram os versos. Voltara para casa tarde da noite e, em vez de deitar-me, demorava-me no estúdio onde acendera a luz do gás. Uma mosca, atraída pela claridade, pôs-se a azucrinar-me. Consegui acertar-lhe um golpe, de leve para não sujar-me. Esqueci-a e só mais tarde percebi como, em cima da mesa, lentamente ela começava a reanimar-se. Estava parada, ereta, e parecia mais alta que a princípio, porque uma das patinhas se estropiara e não podia flexionar-se. Com as duas patas posteriores alisava aplicadamente as asas. Tentou mover-se, mas caiu de costas. Endireitou-se e voltou ao seu aplicado mister.

Foi então que escrevi os versos, espantado por haver descoberto que aquele pequeno organismo, penetrado por tamanha dor, fosse orientado em seu esforço ingente por duas convicções errôneas: em primeiro lugar, alisando com tanta obstinação as asas ilesas, o inseto revelava desconhecer de que órgão derivava a dor; além disso, a aplicação de seu esforço demonstrava que em sua mente minúscula existia a convicção fundamental de que a saúde é um dom comum a todos e que devemos fatalmente recuperá-la se a perdemos. Eram erros perfeitamente desculpáveis num inseto cuja vida dura apenas uma estação, e a quem não sobra tempo para adquirir experiência".

(Trecho de A consciência de Zeno, de Italo Svevo. Tradução: Ivo Barroso.)

Um comentário:

Ratapulgo disse...

Eu sempre sonho que estou voando também. tenho uma técnica e tudo pra voar!

Btw: Muito honrado, mesmo!
(ratapulgo faz uma vênia até o chão e depois não consegue se levantar. sai da sala fingindo que está procurando a lente de contato)