MEU NOME É FRANZ:
FRANZ KAFKA.
SOU UM JUDEU DE PRAGA,
NA TCHECOSLOVÁQUIA.
EU SOU ADVOGADO,
ESPECIALISTA EM SEGUROS.
TRABALHO NUMA FIRMA DE SEGUROS.
EU ESCREVO ÀS VEZES.
ESCREVO COISAS ESTRANHAS:
A HISTÓRIA DE UM HOMEM QUE
VIROU UMA BARATA.
UM JARDINEIRO QUE QUER
UM EMPREGO NUM CASTELO.
UM RÉU ACUSADO DE UM
CRIME QUE NUNCA COMETEU.
NÃO ME BATAM.
EU NUNCA COMETI CRIME ALGUM.
MEU ÚNICO CRIME É SER EU.
(extraído do encarte do Leminski Multimídia)
quinta-feira, dezembro 06, 2007
segunda-feira, novembro 19, 2007
Uma Pequena Fábula
(vertida desta tradução, que eu nem sei contar até sete em alemão...)
- Ai de mim - disse o rato - o mundo inteiro vai ficando cada vez menor dia após dia. No começo era tão grande que eu tinha medo, eu corria e corria, e ficava contente ao ver paredes distantes à direita e à esquerda, mas essas paredes enormes se estreitaram tão depressa que já estou na última peça, e ali no canto está a ratoeira para a qual estou correndo.
- Você só precisa mudar de direção - disse o gato e devorou-o.
Franz Kafka
- Ai de mim - disse o rato - o mundo inteiro vai ficando cada vez menor dia após dia. No começo era tão grande que eu tinha medo, eu corria e corria, e ficava contente ao ver paredes distantes à direita e à esquerda, mas essas paredes enormes se estreitaram tão depressa que já estou na última peça, e ali no canto está a ratoeira para a qual estou correndo.
- Você só precisa mudar de direção - disse o gato e devorou-o.
Franz Kafka
sábado, outubro 27, 2007
O ano lírico
PRIMAVERIL
Mês de rosas. Minhas rimas
giram para a vasta selva,
a recolher mel e aromas
de flores ora entreabertas.
Vem, amada. O grande bosque
é nosso templo; ali ondeia,
flutua um santo perfume
de amor. O pássaro voeja
de uma árvore a outra e saúda
tua fronte rosada e bela
como a aurora; e os carvalhos
robustos, altos, soberbos,
quando tu passas agitam
suas folhas verdes trêmulas,
e arcam as ramas como
à passagem da princesa.
Oh, minha amada! É o doce
período da primavera.
Olha em teu olhar o meu,
dá ao vento a cabeleira,
e que banhe o sol esse aro
da tua luz alva e esplêndida.
Deixa que me apertem as mãos
as tuas de rosa e de seda
e ri, e mostrem teus lábios
a púrpura úmida e fresca.
E eu te direi minhas rimas,
tu me ouvirás brejeira;
se acaso algum rouxinol
vier e pousar por perto
e contar alguma história
de ninfa, rosa ou estrela,
não ouvirás nota ou trino,
mas, enamorada e régia,
escutarás minhas músicas
destes meus lábios trêmulos.
Oh, minha amada! É o doce
período da primavera.
Ali há uma clara fonte
que brota de uma caverna,
onde se banham desnudas
as ninfas com seus folguedos.
Riem ao som da espuma,
fendem a linfa serena;
entre a poeira cristalina
escovam as cabeleiras
e sabem hinos de amores
na formosa língua grega,
que em glorioso tempo antigo
Pan inventou nas florestas.
Amada, porei nestas rimas
a palavra mais soberba
das frases dos versos todos
dos hinos da língua mestra
e te direi essa palavra
empapada em mel de Hibléia...
Oh, minha amada! É o doce
período da primavera.
Vão em seus grupos vibrantes
voando as muitas abelhas
como um áureo torvelinho
que esta branca luz alegra;
e sobre a água sonora
passam radiantes, ligeiras,
com suas asas cristalinas
as irisadas libélulas.
Ouve: canta a cigarra
porque ama o sol, que na selva
seu pó dourado polvilha
entre essas folhas espessas.
Seu alento nos dá num sopro
fecundo a nossa mãe terra,
com a alma destes cálices
e o aroma destas ervas.
Vês este ninho? Há uma ave.
São duas: o macho e a fêmea.
Ela tem o ventre branco,
ele tem as plumas negras.
Na garganta possui gorjeio,
as asas brancas e trêmulas;
e os bicos que se entrechocam
como lábios que se beijam.
O ninho é cântico. A ave
incuba o trino, oh, poetas!
das liras universais,
a ave pulsa certeira.
Bendito o calor sagrado
que fez brotar as sementes.
Oh minha amada! É o doce
período da primavera.
A doce musa Delícia
me trouxe uma ânfora grega
cinzelada de alabastro,
de vinho de Naxos plena;
e formosa taça de ouro,
a base cheia de pérolas,
para que eu bebesse o vinho
que é propício para os poetas.
Na ânfora está Diana,
real, orgulhosa e esbelta,
com sua nudez divina
em sua atitude cinegética.
Não quero o vinho de Naxos
nem a ânfora de ansas belas,
nem a taça de onde a Cípria
ao galhardo Adônis reza.
Quero beber deste amor
só em tua boca vermelha.
Oh, minha amada! É o doce
período da primavera.
Rubén Darío
versão brasileira: Ivan Justen Santana
Mês de rosas. Minhas rimas
giram para a vasta selva,
a recolher mel e aromas
de flores ora entreabertas.
Vem, amada. O grande bosque
é nosso templo; ali ondeia,
flutua um santo perfume
de amor. O pássaro voeja
de uma árvore a outra e saúda
tua fronte rosada e bela
como a aurora; e os carvalhos
robustos, altos, soberbos,
quando tu passas agitam
suas folhas verdes trêmulas,
e arcam as ramas como
à passagem da princesa.
Oh, minha amada! É o doce
período da primavera.
Olha em teu olhar o meu,
dá ao vento a cabeleira,
e que banhe o sol esse aro
da tua luz alva e esplêndida.
Deixa que me apertem as mãos
as tuas de rosa e de seda
e ri, e mostrem teus lábios
a púrpura úmida e fresca.
E eu te direi minhas rimas,
tu me ouvirás brejeira;
se acaso algum rouxinol
vier e pousar por perto
e contar alguma história
de ninfa, rosa ou estrela,
não ouvirás nota ou trino,
mas, enamorada e régia,
escutarás minhas músicas
destes meus lábios trêmulos.
Oh, minha amada! É o doce
período da primavera.
Ali há uma clara fonte
que brota de uma caverna,
onde se banham desnudas
as ninfas com seus folguedos.
Riem ao som da espuma,
fendem a linfa serena;
entre a poeira cristalina
escovam as cabeleiras
e sabem hinos de amores
na formosa língua grega,
que em glorioso tempo antigo
Pan inventou nas florestas.
Amada, porei nestas rimas
a palavra mais soberba
das frases dos versos todos
dos hinos da língua mestra
e te direi essa palavra
empapada em mel de Hibléia...
Oh, minha amada! É o doce
período da primavera.
Vão em seus grupos vibrantes
voando as muitas abelhas
como um áureo torvelinho
que esta branca luz alegra;
e sobre a água sonora
passam radiantes, ligeiras,
com suas asas cristalinas
as irisadas libélulas.
Ouve: canta a cigarra
porque ama o sol, que na selva
seu pó dourado polvilha
entre essas folhas espessas.
Seu alento nos dá num sopro
fecundo a nossa mãe terra,
com a alma destes cálices
e o aroma destas ervas.
Vês este ninho? Há uma ave.
São duas: o macho e a fêmea.
Ela tem o ventre branco,
ele tem as plumas negras.
Na garganta possui gorjeio,
as asas brancas e trêmulas;
e os bicos que se entrechocam
como lábios que se beijam.
O ninho é cântico. A ave
incuba o trino, oh, poetas!
das liras universais,
a ave pulsa certeira.
Bendito o calor sagrado
que fez brotar as sementes.
Oh minha amada! É o doce
período da primavera.
A doce musa Delícia
me trouxe uma ânfora grega
cinzelada de alabastro,
de vinho de Naxos plena;
e formosa taça de ouro,
a base cheia de pérolas,
para que eu bebesse o vinho
que é propício para os poetas.
Na ânfora está Diana,
real, orgulhosa e esbelta,
com sua nudez divina
em sua atitude cinegética.
Não quero o vinho de Naxos
nem a ânfora de ansas belas,
nem a taça de onde a Cípria
ao galhardo Adônis reza.
Quero beber deste amor
só em tua boca vermelha.
Oh, minha amada! É o doce
período da primavera.
Rubén Darío
versão brasileira: Ivan Justen Santana
sábado, setembro 29, 2007
outro poema felino?
La rêve du jaguar
The jaguar´s dream
O sonho do jaguar
Sous les noirs acajous, les lianes en fleur,
Beneath the dark mahoganies, creepers in flower
Sob os negros acajus, as lianas em flor,
Dans l'air lourd, immobile et saturé de mouches,
Hang in the heavy, motionless, fly-filled air,
Num ar pesado, imóvel e saturado de moscas,
Pendent, et, s'enroulant en bas parmi les souches,
Twining among the tree-stumps, falling where,
Pendem, e, enrolando-se entre os troncos,
Bercent le perroquet splendide et querelleur,
They cradle the brilliant parrot, the quarreller,
Ninam o papagaio esplêndido e palrador,
L'araignée au dos jaune et les singes farouches.
The wild monkeys, spiders with yellow hair.
A aranha de dorso amarelo e os macacos loucos.
C'est là que le tueur de boeufs et de chevaux,
There the wearied, ominous horse-killer,
É ali que o matador de bois e de cavalos,
Le long des vieux troncs morts à l'écorce moussue,
The ox-slayer, returns with a steady tread,
Ao longo dos velhos caules de cascas musgosas,
Sinistre et fatigué, revient à pas égaux.
Over the dead mossy trunks of old timber.
Sinistro e fatigado, retorna em passo regular.
Il va, frottant ses reins musculeux qu'il bossue;
Stretching, arching his muscular loins, a breath
Ele segue, alongando suas ancas musculosas;
Et, du mufle béant par la soif alourdi,
From his gaping muzzle heavy with thirst
E, da mandíbula aberta pela sede agravante,
Un souffle rauque et bref, d'une brusque secousse,
Issues with a sudden shock, quick and harsh,
Um sopro rouco e breve, num brusco arranco,
Trouble les grands lézards, chauds des feux de midi,
And great lizards warm from the noon heat stir,
Assusta os grandes lagartos, quentes do meio-dia,
Dont la fuite étincelle à travers l'herbe rousse.
Then vanish gleaming through the tawny grass.
Cuja fuga cintila através das ervas rubras.
En un creux du bois sombre interdit au soleil
He sinks down; stretched out on a level stone,
Num nicho interdito ao sol na floresta sombria
Il s'affaisse, allongé sur quelque roche plate;
Cleans his paw with a broad lick of his tongue
Ele se esgueira, esticado numa rocha mais plana;
D'un large coup de langue il se lustre la patte;
Veiled from the sun in a hollow of the forest,
Com um golpe largo da língua lustra a pata;
Il cligne ses yeux d'or hébétés de sommeil;
Blinks golden eyes dull with sleepiness;
Pisca os olhos dourados abestalhados de sono;
Et, dans l'illusion de ses forces inertes,
And, as his inert forces, in imagination
E, na ilusão de suas forças inertes,
Faisant mouvoir sa queue et frissonner ses flancs,
Make his tail flicker and his flanks quiver,
Movendo a cauda e sacudindo os flancos,
Il rêve qu'au milieu des plantations vertes,
Dreams himself deep in some green plantation,
Ele sonha que em meio às plantações verdes,
Il enfonce d'un bond ses ongles ruisselants
Leaping, and plunging dripping claws forever
Crava com um só bote suas unhas rutilantes
Dans la chair des taureaux effarés et beuglants.
Into bullocks' flesh as they bellow and shiver.
Na carne dos touros estupefatos e lancinantes.
Leconte de Lisle
A.S.Kline
Ivan Justen Santana
The jaguar´s dream
O sonho do jaguar
Sous les noirs acajous, les lianes en fleur,
Beneath the dark mahoganies, creepers in flower
Sob os negros acajus, as lianas em flor,
Dans l'air lourd, immobile et saturé de mouches,
Hang in the heavy, motionless, fly-filled air,
Num ar pesado, imóvel e saturado de moscas,
Pendent, et, s'enroulant en bas parmi les souches,
Twining among the tree-stumps, falling where,
Pendem, e, enrolando-se entre os troncos,
Bercent le perroquet splendide et querelleur,
They cradle the brilliant parrot, the quarreller,
Ninam o papagaio esplêndido e palrador,
L'araignée au dos jaune et les singes farouches.
The wild monkeys, spiders with yellow hair.
A aranha de dorso amarelo e os macacos loucos.
C'est là que le tueur de boeufs et de chevaux,
There the wearied, ominous horse-killer,
É ali que o matador de bois e de cavalos,
Le long des vieux troncs morts à l'écorce moussue,
The ox-slayer, returns with a steady tread,
Ao longo dos velhos caules de cascas musgosas,
Sinistre et fatigué, revient à pas égaux.
Over the dead mossy trunks of old timber.
Sinistro e fatigado, retorna em passo regular.
Il va, frottant ses reins musculeux qu'il bossue;
Stretching, arching his muscular loins, a breath
Ele segue, alongando suas ancas musculosas;
Et, du mufle béant par la soif alourdi,
From his gaping muzzle heavy with thirst
E, da mandíbula aberta pela sede agravante,
Un souffle rauque et bref, d'une brusque secousse,
Issues with a sudden shock, quick and harsh,
Um sopro rouco e breve, num brusco arranco,
Trouble les grands lézards, chauds des feux de midi,
And great lizards warm from the noon heat stir,
Assusta os grandes lagartos, quentes do meio-dia,
Dont la fuite étincelle à travers l'herbe rousse.
Then vanish gleaming through the tawny grass.
Cuja fuga cintila através das ervas rubras.
En un creux du bois sombre interdit au soleil
He sinks down; stretched out on a level stone,
Num nicho interdito ao sol na floresta sombria
Il s'affaisse, allongé sur quelque roche plate;
Cleans his paw with a broad lick of his tongue
Ele se esgueira, esticado numa rocha mais plana;
D'un large coup de langue il se lustre la patte;
Veiled from the sun in a hollow of the forest,
Com um golpe largo da língua lustra a pata;
Il cligne ses yeux d'or hébétés de sommeil;
Blinks golden eyes dull with sleepiness;
Pisca os olhos dourados abestalhados de sono;
Et, dans l'illusion de ses forces inertes,
And, as his inert forces, in imagination
E, na ilusão de suas forças inertes,
Faisant mouvoir sa queue et frissonner ses flancs,
Make his tail flicker and his flanks quiver,
Movendo a cauda e sacudindo os flancos,
Il rêve qu'au milieu des plantations vertes,
Dreams himself deep in some green plantation,
Ele sonha que em meio às plantações verdes,
Il enfonce d'un bond ses ongles ruisselants
Leaping, and plunging dripping claws forever
Crava com um só bote suas unhas rutilantes
Dans la chair des taureaux effarés et beuglants.
Into bullocks' flesh as they bellow and shiver.
Na carne dos touros estupefatos e lancinantes.
Leconte de Lisle
A.S.Kline
Ivan Justen Santana
quarta-feira, setembro 19, 2007
Atirando cavalos ao mar...
HORSE LATITUDES
LATITUDES CAVALARES
When the still sea conspires an armor
Quando o mar parado conspira uma armadura
And her sullen and aborted currents breed tiny monsters
E suas correntes soturnas e abortadas geram monstrículos
True sailing is dead
A navegação verdadeira está morta
Awkward instant
Instante canhestro
And the first animal is jettisoned
E o primeiro animal é arremessado
Legs furiously pumping
Patas furiosamente bombeando
Their stiff green gallop
Seu galope imaturo e tenso
And heads bob up
E cabeças empinam com o solavanco
Poise
Altivez
Delicate
Delicada
Pause
Pausa
Consent
Permissão
In mute nostril agony
Numa agonia muda de narina
Carefully refined
Cuidadosamente refinada
And sealed over
E selada por cima
James Douglas Morrison
Ivan Justen Santana
LATITUDES CAVALARES
When the still sea conspires an armor
Quando o mar parado conspira uma armadura
And her sullen and aborted currents breed tiny monsters
E suas correntes soturnas e abortadas geram monstrículos
True sailing is dead
A navegação verdadeira está morta
Awkward instant
Instante canhestro
And the first animal is jettisoned
E o primeiro animal é arremessado
Legs furiously pumping
Patas furiosamente bombeando
Their stiff green gallop
Seu galope imaturo e tenso
And heads bob up
E cabeças empinam com o solavanco
Poise
Altivez
Delicate
Delicada
Pause
Pausa
Consent
Permissão
In mute nostril agony
Numa agonia muda de narina
Carefully refined
Cuidadosamente refinada
And sealed over
E selada por cima
James Douglas Morrison
Ivan Justen Santana
sexta-feira, agosto 31, 2007
Soneto pra escocês emendar...
FRA bank to bank, fra wood to wood I rin,
Ourhailit with my feeble fantasie;
Like til a leaf that fallis from a tree,
Or til a reed ourblawin with the win.
De praia em praia, de selva em selva eu prossigo,
Alheio a tudo em minha fraca fantasia;
Feito a folha que cai do galho em hora fria,
Ou o arbusto que o vento arranca e vai consigo.
Twa gods guides me: the ane of tham is blin,
Yea and a bairn brocht up in vanitie;
The next a wife ingenrit of the sea,
And lichter nor a dauphin with her fin.
Dois divinos seres guiam-me: um deles, cego,
É ainda criança, vaidosa e arredia;
O outro é uma jovem da marítima via,
Veloz qual barbatana dum golfinho amigo.
Unhappy is the man for evermair
That tills the sand and sawis in the air;
But twice unhappier is he, I lairn,
That feidis in his hairt a mad desire,
And follows on a woman throw the fire,
Led by a blind and teachit by a bairn.
Infeliz é o homem, no infinito a vagar,
Que ara só em areia e semeia pelo ar;
Mas muito mais infeliz é aquele que avança
E alimenta no peito um insano querer,
E através do fogo vai atrás da mulher,
Guiado por um cego e seguindo uma criança.
Mark Alexander Boyd (1563-1601)
Ivan Justen Santana (1973 - ?)
Ourhailit with my feeble fantasie;
Like til a leaf that fallis from a tree,
Or til a reed ourblawin with the win.
De praia em praia, de selva em selva eu prossigo,
Alheio a tudo em minha fraca fantasia;
Feito a folha que cai do galho em hora fria,
Ou o arbusto que o vento arranca e vai consigo.
Twa gods guides me: the ane of tham is blin,
Yea and a bairn brocht up in vanitie;
The next a wife ingenrit of the sea,
And lichter nor a dauphin with her fin.
Dois divinos seres guiam-me: um deles, cego,
É ainda criança, vaidosa e arredia;
O outro é uma jovem da marítima via,
Veloz qual barbatana dum golfinho amigo.
Unhappy is the man for evermair
That tills the sand and sawis in the air;
But twice unhappier is he, I lairn,
That feidis in his hairt a mad desire,
And follows on a woman throw the fire,
Led by a blind and teachit by a bairn.
Infeliz é o homem, no infinito a vagar,
Que ara só em areia e semeia pelo ar;
Mas muito mais infeliz é aquele que avança
E alimenta no peito um insano querer,
E através do fogo vai atrás da mulher,
Guiado por um cego e seguindo uma criança.
Mark Alexander Boyd (1563-1601)
Ivan Justen Santana (1973 - ?)
domingo, agosto 26, 2007
Este faz 93 anos hoje, apesar de ter morrido em 1984...
Poema
Amo-te por cada pestana, cabelo, debato-me contigo em corredores
branquíssimos de onde nascem fontes de luz,
luto contigo em cada nome, arranco-te com delicadeza de cicatriz,
vou colocando em teus cabelos cinzas de relâmpago
e espigas que dormiam à chuva.
Não quero que tenhas uma forma, antes que sejas
precisamente o que vem por detrás da tua mão,
porque a água, considera a água, e os leões
quando se dissolvem no açúcar da fábula,
e os gestos, essa arquitectura do nada,
acendendo suas luzes a metade do seu encontro.
Todas as manhãs são o quadro onde te invento, desenho,
e te apago, assim não és, nem
com esse cabelo caído, esse sorriso.
Procuro-te na tua totalidade, no copo onde o vinho
é também lua e espelho,
procuro esse limite que faz vibrar um homem
numa galeria de museu.
E quero-te, e faz tempo e frio.
Julio Cortázar, versão de manuel a. domingos
Amo-te por cada pestana, cabelo, debato-me contigo em corredores
branquíssimos de onde nascem fontes de luz,
luto contigo em cada nome, arranco-te com delicadeza de cicatriz,
vou colocando em teus cabelos cinzas de relâmpago
e espigas que dormiam à chuva.
Não quero que tenhas uma forma, antes que sejas
precisamente o que vem por detrás da tua mão,
porque a água, considera a água, e os leões
quando se dissolvem no açúcar da fábula,
e os gestos, essa arquitectura do nada,
acendendo suas luzes a metade do seu encontro.
Todas as manhãs são o quadro onde te invento, desenho,
e te apago, assim não és, nem
com esse cabelo caído, esse sorriso.
Procuro-te na tua totalidade, no copo onde o vinho
é também lua e espelho,
procuro esse limite que faz vibrar um homem
numa galeria de museu.
E quero-te, e faz tempo e frio.
Julio Cortázar, versão de manuel a. domingos
sexta-feira, agosto 24, 2007
63 anos de idade mas desde sempre...
Blade Runner Waltz
__Em mil novecentos e oitenta e sempre,
ah, que tempos aqueles,
__dançamos ao luar, ao som da valsa
A Perfeição do Amor Através da Dor e da Renúncia,
__nome, confesso, um pouco longo,
mas os tempos, aquele tempo,
__ah, não se faz mais tempo
como antigamente.
__Aquilo sim é que eram horas,
dias enormes, semanas anos, minutos milênios,
__e toda aquela fortuna em tempo
a gente gastava em bobagens,
__amar, sonhar, dançar ao som da valsa,
aquelas falsas valsas de tão imenso nome lento
__que a gente dançava em algum setembro
daqueles mil novecentos e oitenta e sempre
Paulo Leminski
__Em mil novecentos e oitenta e sempre,
ah, que tempos aqueles,
__dançamos ao luar, ao som da valsa
A Perfeição do Amor Através da Dor e da Renúncia,
__nome, confesso, um pouco longo,
mas os tempos, aquele tempo,
__ah, não se faz mais tempo
como antigamente.
__Aquilo sim é que eram horas,
dias enormes, semanas anos, minutos milênios,
__e toda aquela fortuna em tempo
a gente gastava em bobagens,
__amar, sonhar, dançar ao som da valsa,
aquelas falsas valsas de tão imenso nome lento
__que a gente dançava em algum setembro
daqueles mil novecentos e oitenta e sempre
Paulo Leminski
quinta-feira, agosto 23, 2007
SE O NÃO FOSSE AINDA
Se o não fosse ainda
E cada cinzeiro sofresse
Apenas por uma (e mesma) guimba
E a carne que não encontrara
Até aqui seu leito e seu mexer
Pudesse um (e apenas um) encanto entretecer
Eu te decantaria
Num único tom
E sempre nessa mesma levada
Todo esse todo amor todo
Que me acertou
Que não restou mais nada
E cada cinzeiro sofresse
Apenas por uma (e mesma) guimba
E a carne que não encontrara
Até aqui seu leito e seu mexer
Pudesse um (e apenas um) encanto entretecer
Eu te decantaria
Num único tom
E sempre nessa mesma levada
Todo esse todo amor todo
Que me acertou
Que não restou mais nada
segunda-feira, agosto 13, 2007
DREAM LIFE
VIDA DE SONHO
As if you descended in each night’s sleep
Into your father’s grave
You seemed afraid to look, or to remember next morning
What you had seen. When you did remember
Your dreams were of a sea clogged with corpses,
Death-camp atrocities, mass amputations.
Como se você descesse a cada noite de sono
Para dentro da sepultura do seu pai
Você parecia ter medo de ver, ou de lembrar na manhã seguinte
O que tinha visto. Quando você conseguia lembrar
Seus sonhos eram de um mar coagulado de cadáveres,
Atrocidades de campo de morte, amputações em massa.
Your sleep was a bloody shrine, it seemed.
And the sacred relic of it
Your father’s gangrenous, cut-off leg.
No wonder you feared sleep.
No wonder you woke, saying: ‘No dreams.’
Seu sono era um santuário sangrento, ao que parecia.
E a relíquia sagrada dele
A perna gangrenada e mutilada do seu pai.
Não espanta que você temesse o sono.
Não espanta que você acordasse, dizendo: “Sem sonhos.”
What was the liturgy
Of that nightly service, that cult
Where you were the priestess?
Were those poems your salvaged fragments of it?
Qual era a liturgia
Daquela missa noturna, aquele culto
Do qual você era a sacerdotisa?
Aqueles poemas eram seus fragmentos salvos dele?
Your day-waking was a harrowed safety
You tried to cling to – not knowing
What had frightened you
Or where your poetry followed you from
With its blood-sticky feet. Each night
I hypnotized calm into you.
Courage, understanding and calm.
Did it help? Each night you descended again
Into the temple-crypt,
That private, primal cave
Under the public dome of father-worship.
All night you lolled unconscious
Over the crevasse
Inhaling the oracle
That spoke only conclusions.
Seu dia acordada era uma segurança atormentada
À qual você se agarrava – sem saber
O que havia lhe assustado
Ou a partir de onde a sua poesia seguia você
Com seus pés sanguigrudentos. A cada noite
Eu hipnotizava calma em você.
Coragem, compreensão e calma.
Ajudava? A cada noite você descia novamente
Para dentro daquele templo-cripta,
Aquela privativa caverna primal
Sob a abóbada pública da adoração-ao-pai.
A noite toda você se debruçava inconsciente
Sobre a fenda
Inalando o oráculo
Que falava apenas conclusões.
Hackings-off of real limbs,
Smoke of the hospital incinerator,
Carnival beggars on stumps,
The gas-chamber and the oven
Of the camera’s war – all this
Was the anatomy of your God of Sleep,
His blue eyes – the sleepless electrodes
In your temples
Pedaços decepados de membros reais,
Fumaça do incinerador do hospital,
Mendigos carnavalescos em cotos,
A câmara de gás e o forno
Da guerra da câmera – tudo isso
Era a anatomia do seu Deus do Sono,
Os olhos azuis dele – os eletrodos insones
Nas suas têmporas
Preparing his Feast of Atonement.
Preparando o Bacanal de Redenção dele.
Ted Hughes
Ivan Justen Santana
As if you descended in each night’s sleep
Into your father’s grave
You seemed afraid to look, or to remember next morning
What you had seen. When you did remember
Your dreams were of a sea clogged with corpses,
Death-camp atrocities, mass amputations.
Como se você descesse a cada noite de sono
Para dentro da sepultura do seu pai
Você parecia ter medo de ver, ou de lembrar na manhã seguinte
O que tinha visto. Quando você conseguia lembrar
Seus sonhos eram de um mar coagulado de cadáveres,
Atrocidades de campo de morte, amputações em massa.
Your sleep was a bloody shrine, it seemed.
And the sacred relic of it
Your father’s gangrenous, cut-off leg.
No wonder you feared sleep.
No wonder you woke, saying: ‘No dreams.’
Seu sono era um santuário sangrento, ao que parecia.
E a relíquia sagrada dele
A perna gangrenada e mutilada do seu pai.
Não espanta que você temesse o sono.
Não espanta que você acordasse, dizendo: “Sem sonhos.”
What was the liturgy
Of that nightly service, that cult
Where you were the priestess?
Were those poems your salvaged fragments of it?
Qual era a liturgia
Daquela missa noturna, aquele culto
Do qual você era a sacerdotisa?
Aqueles poemas eram seus fragmentos salvos dele?
Your day-waking was a harrowed safety
You tried to cling to – not knowing
What had frightened you
Or where your poetry followed you from
With its blood-sticky feet. Each night
I hypnotized calm into you.
Courage, understanding and calm.
Did it help? Each night you descended again
Into the temple-crypt,
That private, primal cave
Under the public dome of father-worship.
All night you lolled unconscious
Over the crevasse
Inhaling the oracle
That spoke only conclusions.
Seu dia acordada era uma segurança atormentada
À qual você se agarrava – sem saber
O que havia lhe assustado
Ou a partir de onde a sua poesia seguia você
Com seus pés sanguigrudentos. A cada noite
Eu hipnotizava calma em você.
Coragem, compreensão e calma.
Ajudava? A cada noite você descia novamente
Para dentro daquele templo-cripta,
Aquela privativa caverna primal
Sob a abóbada pública da adoração-ao-pai.
A noite toda você se debruçava inconsciente
Sobre a fenda
Inalando o oráculo
Que falava apenas conclusões.
Hackings-off of real limbs,
Smoke of the hospital incinerator,
Carnival beggars on stumps,
The gas-chamber and the oven
Of the camera’s war – all this
Was the anatomy of your God of Sleep,
His blue eyes – the sleepless electrodes
In your temples
Pedaços decepados de membros reais,
Fumaça do incinerador do hospital,
Mendigos carnavalescos em cotos,
A câmara de gás e o forno
Da guerra da câmera – tudo isso
Era a anatomia do seu Deus do Sono,
Os olhos azuis dele – os eletrodos insones
Nas suas têmporas
Preparing his Feast of Atonement.
Preparando o Bacanal de Redenção dele.
Ted Hughes
Ivan Justen Santana
terça-feira, julho 31, 2007
The Wishing Box
A Caixa dos Desejos
Agnes Higgins percebeu apenas bem demais a causa da beatífica expressão distraída de seu marido Harold diante dos seus suco de laranja e ovos mexidos matinais.
– Bem, fungou Agnes, espalhando geléia de ameixa na sua torrada com golpes vindicativos de faca, o que você sonhou na noite passada?
– Eu estava só me lembrando, disse Harold, ainda fitando a distância com um olhar extático e impreciso que atravessava diretamente as formas tangíveis e muito atraentes de sua mulher (bochechas rosadas e a loira fofinha de sempre naquela manhã de início de Setembro, em seu peignoir de bolinhas cor-de-rosa), daqueles manuscritos que eu discutia com William Blake.
– Mas, objetou Agnes, tentando com dificuldade esconder sua irritação, como é que você sabia que era William Blake?
Harold pareceu surpreso: – Ora, pelos seus retratos, é claro.
E o que Agnes podia dizer contra isso? Ela se ardia silenciosamente diante de seu café, lutando com o estranho ciúme que vinha crescendo nela como um escuro câncer maligno desde a noite de casamento deles havia apenas três meses quando ela descobrira sobre os sonhos de Harold. Naquela primeira noite de lua-de-mel, durante a madrugada, Harold surpreendeu Agnes dum sono profundo e sem sonhos com uma torção violenta e convulsiva de todo o seu braço direito. Momentaneamente assustada, Agnes sacudira Harold até acordá-lo pra perguntar em carinhosos tons maternais qual era o problema; ela pensou que ele pudesse estar se debatendo nas garras dum pesadelo. Não o Harold.
– Eu estava acabando de começar a tocar o Concerto do Imperador, ele explicou sonolento. Eu devia estar erguendo o braço pro primeiro acorde quando você me acordou.
Agora, no começo de seu casamento, os sonhos vívidos de Harold impressionavam Agnes. Toda manhã ela perguntava a Harold o que ele tinha sonhado durante a noite, e ele lhe contava com detalhes tão ricos como se descrevesse algum significativo evento real.
– Eu estava sendo apresentado num encontro de poetas norte-americanos na Biblioteca do Congresso, ele reportava com gosto. William Carlos Williams estava lá com um grande capote grosso, e aquele que escreve sobre Nantucket, e Robinson Jeffers parecendo um Índio Americano, do jeito que ele está na foto da antologia; e aí o Robert Frost chegou dirigindo um carrinho de salão e disse uma coisa espirituosa que me fez rir. Ou: – Eu vi um belo deserto, todo em tons vermelhos e roxos, com cada grão de areia parecendo um rubi ou uma safira jorrando luz. Um leopardo branco com manchas douradas estava sobre um córrego azul brilhante, as patas traseiras numa margem, as dianteiras na outra, e uma fila de formigas vermelhas cruzava o córrego sobre o leopardo, pela cauda, dorso, entre os olhos, e descendo pelo outro lado.
Os sonhos de Harold não eram nada menos do que meticulosas obras de arte. Inegavelmente, prum contador diplomado com pronunciadas propensões literárias (ele lia E. T. A. Hoffmann, Kafka, e os mensários astrológicos em vez do jornal nas idas de trem ao trabalho), Harold possuía uma imaginação surpreendentemente rápida e colorida. Porém, gradualmente, o hábito peculiar de Harold de aceitar seus sonhos como se fossem realmente uma parte integrante de sua experiência quando acordado começou a enfurecer Agnes. Ela se sentia abandonada. Era como se Harold gastasse um terço de sua vida entre celebridades e fabulosas criaturas lendárias num mundo estimulante do qual Agnes se achava perpetuamente exilada, a não ser de ouvir falar nele.
À medida em que as semanas se passavam, Agnes começou a se remoer. Apesar dela se recusar a contar isso a Harold, seus próprios sonhos, quando ela os tinha (e isso era dolorosamente raro), aterrorizavam-na: paisagens escuras rebrilhando, povoadas com irreconhecíveis figuras ominosas. Ela nunca conseguia se lembrar desses pesadelos em detalhes, mas perdia suas formas na hora mesmo em que lutava por acordar, retendo apenas a sensação aguda de sua atmosfera abafada, carregada de tempestades, sensação opressiva que a assombraria através do dia seguinte. Agnes tinha vergonha de mencionar essas cenas fragmentárias de horror a Harold, por medo que elas refletissem muito desabonadoramente os seus próprios poderes de imaginação. Os sonhos dela – poucos e distantes como quer que fossem – soavam tão prosaicos, tão tediosos em comparação com o majestoso esplendor barroco dos de Harold. Como ela poderia contar pra ele, simplesmente, por exemplo: eu estava caindo, ou: mamãe morreu e eu estava tão triste, ou: alguma coisa me perseguia e eu não conseguia correr? A verdade pura e simples, Agnes percebia com uma fisgada de inveja, era que sua vida de sonho faria o mais dedicado psicanalista se segurar pra não bocejar.
Onde estavam, imaginava Agnes ansiosamente, aqueles férteis dias de infância quando ela acreditava em fadas? Naquela época, pelo menos, o sono dela nunca era sem sonhos nem estes eram chatos e feios. Ela havia sonhado, em seu sétimo ano, como recordava ansiosamente, com uma terra da caixa dos desejos sobre as nuvens onde caixas dos desejos cresciam em árvores, parecendo-se bastante com moedores de café; você escolhia uma caixa, girava a manivela umas nove vezes sussurrando seu desejo no buraquinho do lado da caixa, e o desejo virava realidade. Outra vez, ela sonhara ter descoberto três folhas de grama mágicas crescendo ao lado da caixa de correio no final da sua rua: as folhas brilhavam como fitas metalizadas de presente de Natal, uma vermelha, uma azul e uma prateada. Ainda em outro sonho, ela e seu irmão mais novo Michael estavam de casacos de neve na frente da casa de telhas brancas de Dody Nelson, raízes enroladas de pinheiros serpenteavam pelo solo duro e marrom; ela estava vestindo luvas de lã com listras brancas e vermelhas; e, subitamente, quando ela estendeu uma das mãos em concha, começou a nevar sulfato de chiclete azul turquesa. Mas era praticamente até aí que iam os sonhos que Agnes recordava de seus infinitamente mais criativos dias de infância. Em qual idade aqueles benevolentes mundos pintados de sonho a tinham abandonado? E por causa de quê?
Enquanto isso, infatigavelmente, Harold continuava a recontar seus sonhos no café-da-manhã. Uma vez, numa época depressiva e sombria da vida de Harold antes dele conhecer Agnes, Harold sonhou que uma raposa vermelha corria pela sua cozinha, gravemente queimada, sua pele chamuscada de preto, sangrando com várias feridas. Depois, confidenciou Harold, num período mais auspicioso após seu casamento com Agnes, a raposa vermelha aparecera novamente, miraculosamente curada, com a pelagem florescendo, pra presentear Harold com uma garrafa de tinta preto permanente. Harold tinha uma afeição particular por seus sonhos de raposa; eles recorriam com freqüência. Assim também, notavelmente, acontecia com os sonhos da carpa gigante. – Tinha esse lago, Harold informou Agnes numa manhã abafadiça de Agosto, onde meu primo Albert e eu íamos pescar; era completamente cheio de carpas. Bom, na noite passada eu estava pescando lá, e peguei a carpa mais gigante que você pode imaginar – devia ser a tataravó de todas as outras; eu puxei e puxei e puxei, e ainda assim ela continuava saindo daquele laguinho.
– Uma vez, contra-atacou Agnes, mexendo morosamente o açúcar no seu café preto, quando eu era pequena, sonhei com o Super-Homem, um sonho todo em technicolor. Ele vestia azul, com capa vermelha e cabelo preto, bonito como um príncipe, e eu fui voando com ele pelos ares – eu sentia o vento assobiando, e as lágrimas saindo dos meus olhos. Nós voamos sobre o Alabama; eu sabia que era o Alabama porque a terra parecia um mapa, com as letras maiúsculas de “Alabama” escritas entre aquelas montanhas verdes.
Harold estava visivelmente impressionado. – O que, ele perguntou a Agnes então, você sonhou na noite passada? O tom de Harold era quase contrito: a bem da verdade, sua própria vida de sonho o ocupava tanto que ele honestamente nunca pensara em ser um ouvinte e investigar a de sua mulher. Ele olhava para a bela e preocupada fisionomia dela com novo interesse: Agnes era, como Harold parou para observar talvez pela primeira vez desde seus primeiros dias de casados, uma visão extraordinariamente atraente do outro lado da mesa da cozinha.
Naquele momento, Agnes ficou confusa com a pergunta bem-intencionada de Harold; ela já passara havia muito pelo estágio em que considerara seriamente esconder no seu armário uma cópia dos escritos de Freud sobre sonhos e fortificar-se com uma história substitutiva de sonho com a qual ela prenderia a atenção de Harold a cada manhã. Agora, jogando as reticências ao vento, ela decidira em desespero confessar seu problema.
– Eu não sonho com nada, admitiu Agnes em tons baixos e trágicos. Não mais.
Harold estava obviamente preocupado. – Talvez, consolou ele, você só não use seus poderes de imaginação o suficiente. Você precisa praticar. Tente fechar os olhos.
Agnes fechou os olhos.
– Agora, perguntou Harold esperançosamente, o que você vê?
Agnes entrou em pânico. Ela não via nada. – Nada, tremulou a voz dela. Nada a não ser um tipo de borrão.
– Bem, disse ele com vivacidade, adotando os modos dum médico lidando com uma doença que apesar de angustiante não é necessariamente fatal, imagine uma taça.
– Que tipo de taça? implorou Agnes.
– Isso é com você, disse Harold. Descreva você pra mim.
Com os olhos ainda fechados, Agnes mergulhou loucamente nas profundezas de sua cabeça. Ela conseguiu após grande esforço conjurar brilhando trêmula uma vaga taça prateada que rondava em algum lugar das nebulosas regiões no fundo da sua mente, piscando como se a qualquer momento pudesse apagar-se feito uma vela.
– É prateada, ela disse, quase desafiadoramente. E tem duas alças.
– Ótimo. Agora imagine uma cena gravada na taça.
Agnes forçou uma rena na taça, envolvida com folhas de parreira, gravadas com linhas cruas na prata. – É uma rena numa coroa de folhas de parreira.
– De que cor é a cena? Harold era impiedoso, pensou Agnes.
– Verde, mentiu Agnes, enquanto apressadamente ela esmaltava as folhas de parreira. As folhas de parreira são verdes. E o céu é preto – ela estava quase orgulhosa desse toque original. E a pele da rena tem pintas brancas.
– Certo. Agora faça a taça ficar toda polida com um brilho uniforme.
Agnes poliu a taça imaginária, sentindo-se uma fraude. – Mas está no fundo da minha cabeça, ela disse dubiamente, abrindo os olhos. Eu vejo tudo bem lá no fundo da minha cabeça. É lá que você vê os seus sonhos?
– Não, não é, disse Harold, embaralhado. Eu vejo meus sonhos na frente das minhas pestanas, como numa tela de cinema. Eles apenas surgem; eu não tenho nada com eles. Como agora, ele fechou seus olhos, eu vejo essas coroas brilhantes indo e vindo, penduradas num grande salgueiro.
Agnes silenciou carrancuda.
– Você vai ficar bem, Harold tentou animá-la com um tom jocoso. É só praticar todo dia imaginar coisas diferentes do jeito que eu te ensinei.
Agnes deixou o assunto de lado. Enquanto Harold estava fora no trabalho, ela começou subitamente a ler bastante; a leitura mantinha sua mente cheia de figuras. Atacada por um tipo de histeria voraz, ela percorreu veloz romances, revistas femininas, jornais, e até mesmo as anedotas na sua Alegria de Cozinhar; ela leu folhetos de viagem, circulares de eletrodomésticos, o catálogo da Sears-Roebuck, as instruções em caixas de cereais, os anúncios nas contra-capas de discos – qualquer coisa que evitasse encarar o vazio em sua própria cabeça do qual Harold a tinha feito tão dolorosamente consciente. Mas tão logo ela erguesse os olhos da matéria impressa, era como se um mundo protetor se extinguisse.
A imutável realidade totalmente auto-suficiente das coisas que a envolviam começou a deprimir Agnes. Com um espanto ciumento, seu quase paralisado olhar apavorado absorveu o tapete oriental, o papel de parede azul Williamsburg, os dragões dourados no vaso chinês no aparador, o desenho de medalhões azuis dourados do sofa estofado no qual ela estava sentada. Ela se sentiu engasgada, sufocada por esses objetos cuja bojuda existência pragmática de algum modo ameaçava as mais profundas e secretas raízes de seu próprio efêmero ser. Harold, ela sabia apenas bem demais, não toleraria essa vanglória de absurdos com mesas e cadeiras; se ele não gostasse da cena diante de si, se ela o chateasse, ele a transformaria pra se adequar à sua imaginação. Se nalguma doce alucinação, lamentou Agnes, um polvo viesse pra ela serpenteando pelo chão, com padrões de roxo e laranja nos tentáculos, ela o abençoaria. Qualquer coisa pra provar que seus poderes imaginativos em formação não estivessem irremediavelmente perdidos; que seu olho não era meramente uma lente de câmera que gravava os fenômenos circundantes e os deixava desse jeito. – Uma rosa, ela se descobriu repetindo vaziamente, como uma nênia funeral, é uma rosa é uma rosa....
Uma manhã quando Agnes lia um romance, ela subitamente percebeu pra seu horror que seus olhos tinham passado por quatro páginas sem absorver o significado duma só palavra. Ela tentou de novo, mas as letras se separavam, contorcendo-se como pequenas cobras pretas malevolentes pela página sibilando um jargão intraduzível. Foi então que Agnes começou a freqüentar o cinema da esquina regularmente a cada tarde. Não importava se ela tivesse visto o filme várias vezes anteriormente; o fluido caleidoscópio de formas diante de seus olhos encantava-a num transe ritmado; as vozes, falando nalgum agradável código ininteligível, exorcizavam o silêncio mortal na sua cabeça. Finalmente, por meio de muita adulação, Agnes persuadiu Harold a comprar um aparelho de televisão em prestações. Aquilo era bem melhor que o cinema; ela podia beber licor de cereja enquanto assistia TV durante as longas tardes. Nesses últimos dias, quando Agnes saudava Harold ao retornar a cada noite, ela descobriu, com uma certa satisfação maliciosa, que o rosto dele se borrava diante do olhar dela, de forma que ela podia mudar suas feições conforme quisesse. Às vezes ela lhe dava uma pele verde-ervilha, às vezes lavanda; às vezes um nariz grego, às vezes um bico de águia.
– Mas eu gosto de licor, disse Agnes com teimosia a Harold quando, aparentes que se tornaram as tardes dela bebendo sozinha mesmo aos olhos indulgentes dele, ele pediu pra ela parar. – O licor me relaxa.
O licor, no entanto, não relaxava Agnes o suficiente pra fazê-la dormir. Cruelmente sóbria, gasto o visionário torpor do licor, ela deitava dura, retorcendo os dedos como garras nervosas nos lençóis, muito tempo depois que Harold já respirava pacífica e regularmente, no meio dalguma rara aventura maravilhosa. Com um pânico gelado crescente, Agnes permanecia completamente desperta noite após noite. Pior, ela não se cansava mais. Finalmente, uma consciência soturna e clara do que estava acontecendo apareceu a ela: as cortinas do sono, da escuridão refrescante do esquecimento dividindo cada dia do dia anterior, e do dia posterior, estavam erguidas pra Agnes eterna e irrevogavelmente. Ela vislumbrou uma perspectiva intolerável de dias de vigília sem visões e noites se estendendo inteiras diante dela, sua mente condenada ao perfeito vazio, sem uma única imagem própria pra defendê-la do assalto devastador de mesas e cadeiras esnobes e autônomas. Ela poderia, refletiu Agnes doentiamente, viver até os cem anos: as mulheres na sua família eram todas longevas.
Dr Marcus, o médico da família Higgins, procurou, de maneira jovial, assegurar Agnes sobre suas reclamações de insônia: – Apenas um pouco de tensão nervosa, é só isso. Tome uma dessas cápsulas à noite por um período e veja como você dorme.
Agnes não perguntou ao Dr Marcus se as pílulas lhe dariam sonhos; ela pôs a caixa de cinqüenta pílulas na bolsa e tomou o ônibus pra casa.
Dois dias depois, na última sexta-feira de Setembro, quando Harold voltou do trabalho (ele tinha fechado os olhos durante toda a hora de viagem do trem, fingindo sono mas na realidade viajando num barco de velas cereja sobre um rio luminoso onde elefantes brancos se apinhavam e vagavam sobre a superfície cristalina da água à sombra de minaretes mouros fabricados completamente com vidro multi-colorido), ele encontrou Agnes deitada no sofá da sala, vestida com seu longo preferido de tafetá esmeralda estilo princesa, pálida e adorável como um lírio marrom, olhos fechados, uma caixinha de pílulas vazia e um copo de água virado no tapete ao seu lado. As feições tranqüilas dela estavam paradas num secreto meio-sorriso de triunfo, como se, numa longínqua terra inatingível aos mortais, ela estivesse, finalmente, valsando com o escuro príncipe de capa vermelha dos seus primeiros sonhos.
Sylvia Plath
Ivan Justen Santana
Agnes Higgins percebeu apenas bem demais a causa da beatífica expressão distraída de seu marido Harold diante dos seus suco de laranja e ovos mexidos matinais.
– Bem, fungou Agnes, espalhando geléia de ameixa na sua torrada com golpes vindicativos de faca, o que você sonhou na noite passada?
– Eu estava só me lembrando, disse Harold, ainda fitando a distância com um olhar extático e impreciso que atravessava diretamente as formas tangíveis e muito atraentes de sua mulher (bochechas rosadas e a loira fofinha de sempre naquela manhã de início de Setembro, em seu peignoir de bolinhas cor-de-rosa), daqueles manuscritos que eu discutia com William Blake.
– Mas, objetou Agnes, tentando com dificuldade esconder sua irritação, como é que você sabia que era William Blake?
Harold pareceu surpreso: – Ora, pelos seus retratos, é claro.
E o que Agnes podia dizer contra isso? Ela se ardia silenciosamente diante de seu café, lutando com o estranho ciúme que vinha crescendo nela como um escuro câncer maligno desde a noite de casamento deles havia apenas três meses quando ela descobrira sobre os sonhos de Harold. Naquela primeira noite de lua-de-mel, durante a madrugada, Harold surpreendeu Agnes dum sono profundo e sem sonhos com uma torção violenta e convulsiva de todo o seu braço direito. Momentaneamente assustada, Agnes sacudira Harold até acordá-lo pra perguntar em carinhosos tons maternais qual era o problema; ela pensou que ele pudesse estar se debatendo nas garras dum pesadelo. Não o Harold.
– Eu estava acabando de começar a tocar o Concerto do Imperador, ele explicou sonolento. Eu devia estar erguendo o braço pro primeiro acorde quando você me acordou.
Agora, no começo de seu casamento, os sonhos vívidos de Harold impressionavam Agnes. Toda manhã ela perguntava a Harold o que ele tinha sonhado durante a noite, e ele lhe contava com detalhes tão ricos como se descrevesse algum significativo evento real.
– Eu estava sendo apresentado num encontro de poetas norte-americanos na Biblioteca do Congresso, ele reportava com gosto. William Carlos Williams estava lá com um grande capote grosso, e aquele que escreve sobre Nantucket, e Robinson Jeffers parecendo um Índio Americano, do jeito que ele está na foto da antologia; e aí o Robert Frost chegou dirigindo um carrinho de salão e disse uma coisa espirituosa que me fez rir. Ou: – Eu vi um belo deserto, todo em tons vermelhos e roxos, com cada grão de areia parecendo um rubi ou uma safira jorrando luz. Um leopardo branco com manchas douradas estava sobre um córrego azul brilhante, as patas traseiras numa margem, as dianteiras na outra, e uma fila de formigas vermelhas cruzava o córrego sobre o leopardo, pela cauda, dorso, entre os olhos, e descendo pelo outro lado.
Os sonhos de Harold não eram nada menos do que meticulosas obras de arte. Inegavelmente, prum contador diplomado com pronunciadas propensões literárias (ele lia E. T. A. Hoffmann, Kafka, e os mensários astrológicos em vez do jornal nas idas de trem ao trabalho), Harold possuía uma imaginação surpreendentemente rápida e colorida. Porém, gradualmente, o hábito peculiar de Harold de aceitar seus sonhos como se fossem realmente uma parte integrante de sua experiência quando acordado começou a enfurecer Agnes. Ela se sentia abandonada. Era como se Harold gastasse um terço de sua vida entre celebridades e fabulosas criaturas lendárias num mundo estimulante do qual Agnes se achava perpetuamente exilada, a não ser de ouvir falar nele.
À medida em que as semanas se passavam, Agnes começou a se remoer. Apesar dela se recusar a contar isso a Harold, seus próprios sonhos, quando ela os tinha (e isso era dolorosamente raro), aterrorizavam-na: paisagens escuras rebrilhando, povoadas com irreconhecíveis figuras ominosas. Ela nunca conseguia se lembrar desses pesadelos em detalhes, mas perdia suas formas na hora mesmo em que lutava por acordar, retendo apenas a sensação aguda de sua atmosfera abafada, carregada de tempestades, sensação opressiva que a assombraria através do dia seguinte. Agnes tinha vergonha de mencionar essas cenas fragmentárias de horror a Harold, por medo que elas refletissem muito desabonadoramente os seus próprios poderes de imaginação. Os sonhos dela – poucos e distantes como quer que fossem – soavam tão prosaicos, tão tediosos em comparação com o majestoso esplendor barroco dos de Harold. Como ela poderia contar pra ele, simplesmente, por exemplo: eu estava caindo, ou: mamãe morreu e eu estava tão triste, ou: alguma coisa me perseguia e eu não conseguia correr? A verdade pura e simples, Agnes percebia com uma fisgada de inveja, era que sua vida de sonho faria o mais dedicado psicanalista se segurar pra não bocejar.
Onde estavam, imaginava Agnes ansiosamente, aqueles férteis dias de infância quando ela acreditava em fadas? Naquela época, pelo menos, o sono dela nunca era sem sonhos nem estes eram chatos e feios. Ela havia sonhado, em seu sétimo ano, como recordava ansiosamente, com uma terra da caixa dos desejos sobre as nuvens onde caixas dos desejos cresciam em árvores, parecendo-se bastante com moedores de café; você escolhia uma caixa, girava a manivela umas nove vezes sussurrando seu desejo no buraquinho do lado da caixa, e o desejo virava realidade. Outra vez, ela sonhara ter descoberto três folhas de grama mágicas crescendo ao lado da caixa de correio no final da sua rua: as folhas brilhavam como fitas metalizadas de presente de Natal, uma vermelha, uma azul e uma prateada. Ainda em outro sonho, ela e seu irmão mais novo Michael estavam de casacos de neve na frente da casa de telhas brancas de Dody Nelson, raízes enroladas de pinheiros serpenteavam pelo solo duro e marrom; ela estava vestindo luvas de lã com listras brancas e vermelhas; e, subitamente, quando ela estendeu uma das mãos em concha, começou a nevar sulfato de chiclete azul turquesa. Mas era praticamente até aí que iam os sonhos que Agnes recordava de seus infinitamente mais criativos dias de infância. Em qual idade aqueles benevolentes mundos pintados de sonho a tinham abandonado? E por causa de quê?
Enquanto isso, infatigavelmente, Harold continuava a recontar seus sonhos no café-da-manhã. Uma vez, numa época depressiva e sombria da vida de Harold antes dele conhecer Agnes, Harold sonhou que uma raposa vermelha corria pela sua cozinha, gravemente queimada, sua pele chamuscada de preto, sangrando com várias feridas. Depois, confidenciou Harold, num período mais auspicioso após seu casamento com Agnes, a raposa vermelha aparecera novamente, miraculosamente curada, com a pelagem florescendo, pra presentear Harold com uma garrafa de tinta preto permanente. Harold tinha uma afeição particular por seus sonhos de raposa; eles recorriam com freqüência. Assim também, notavelmente, acontecia com os sonhos da carpa gigante. – Tinha esse lago, Harold informou Agnes numa manhã abafadiça de Agosto, onde meu primo Albert e eu íamos pescar; era completamente cheio de carpas. Bom, na noite passada eu estava pescando lá, e peguei a carpa mais gigante que você pode imaginar – devia ser a tataravó de todas as outras; eu puxei e puxei e puxei, e ainda assim ela continuava saindo daquele laguinho.
– Uma vez, contra-atacou Agnes, mexendo morosamente o açúcar no seu café preto, quando eu era pequena, sonhei com o Super-Homem, um sonho todo em technicolor. Ele vestia azul, com capa vermelha e cabelo preto, bonito como um príncipe, e eu fui voando com ele pelos ares – eu sentia o vento assobiando, e as lágrimas saindo dos meus olhos. Nós voamos sobre o Alabama; eu sabia que era o Alabama porque a terra parecia um mapa, com as letras maiúsculas de “Alabama” escritas entre aquelas montanhas verdes.
Harold estava visivelmente impressionado. – O que, ele perguntou a Agnes então, você sonhou na noite passada? O tom de Harold era quase contrito: a bem da verdade, sua própria vida de sonho o ocupava tanto que ele honestamente nunca pensara em ser um ouvinte e investigar a de sua mulher. Ele olhava para a bela e preocupada fisionomia dela com novo interesse: Agnes era, como Harold parou para observar talvez pela primeira vez desde seus primeiros dias de casados, uma visão extraordinariamente atraente do outro lado da mesa da cozinha.
Naquele momento, Agnes ficou confusa com a pergunta bem-intencionada de Harold; ela já passara havia muito pelo estágio em que considerara seriamente esconder no seu armário uma cópia dos escritos de Freud sobre sonhos e fortificar-se com uma história substitutiva de sonho com a qual ela prenderia a atenção de Harold a cada manhã. Agora, jogando as reticências ao vento, ela decidira em desespero confessar seu problema.
– Eu não sonho com nada, admitiu Agnes em tons baixos e trágicos. Não mais.
Harold estava obviamente preocupado. – Talvez, consolou ele, você só não use seus poderes de imaginação o suficiente. Você precisa praticar. Tente fechar os olhos.
Agnes fechou os olhos.
– Agora, perguntou Harold esperançosamente, o que você vê?
Agnes entrou em pânico. Ela não via nada. – Nada, tremulou a voz dela. Nada a não ser um tipo de borrão.
– Bem, disse ele com vivacidade, adotando os modos dum médico lidando com uma doença que apesar de angustiante não é necessariamente fatal, imagine uma taça.
– Que tipo de taça? implorou Agnes.
– Isso é com você, disse Harold. Descreva você pra mim.
Com os olhos ainda fechados, Agnes mergulhou loucamente nas profundezas de sua cabeça. Ela conseguiu após grande esforço conjurar brilhando trêmula uma vaga taça prateada que rondava em algum lugar das nebulosas regiões no fundo da sua mente, piscando como se a qualquer momento pudesse apagar-se feito uma vela.
– É prateada, ela disse, quase desafiadoramente. E tem duas alças.
– Ótimo. Agora imagine uma cena gravada na taça.
Agnes forçou uma rena na taça, envolvida com folhas de parreira, gravadas com linhas cruas na prata. – É uma rena numa coroa de folhas de parreira.
– De que cor é a cena? Harold era impiedoso, pensou Agnes.
– Verde, mentiu Agnes, enquanto apressadamente ela esmaltava as folhas de parreira. As folhas de parreira são verdes. E o céu é preto – ela estava quase orgulhosa desse toque original. E a pele da rena tem pintas brancas.
– Certo. Agora faça a taça ficar toda polida com um brilho uniforme.
Agnes poliu a taça imaginária, sentindo-se uma fraude. – Mas está no fundo da minha cabeça, ela disse dubiamente, abrindo os olhos. Eu vejo tudo bem lá no fundo da minha cabeça. É lá que você vê os seus sonhos?
– Não, não é, disse Harold, embaralhado. Eu vejo meus sonhos na frente das minhas pestanas, como numa tela de cinema. Eles apenas surgem; eu não tenho nada com eles. Como agora, ele fechou seus olhos, eu vejo essas coroas brilhantes indo e vindo, penduradas num grande salgueiro.
Agnes silenciou carrancuda.
– Você vai ficar bem, Harold tentou animá-la com um tom jocoso. É só praticar todo dia imaginar coisas diferentes do jeito que eu te ensinei.
Agnes deixou o assunto de lado. Enquanto Harold estava fora no trabalho, ela começou subitamente a ler bastante; a leitura mantinha sua mente cheia de figuras. Atacada por um tipo de histeria voraz, ela percorreu veloz romances, revistas femininas, jornais, e até mesmo as anedotas na sua Alegria de Cozinhar; ela leu folhetos de viagem, circulares de eletrodomésticos, o catálogo da Sears-Roebuck, as instruções em caixas de cereais, os anúncios nas contra-capas de discos – qualquer coisa que evitasse encarar o vazio em sua própria cabeça do qual Harold a tinha feito tão dolorosamente consciente. Mas tão logo ela erguesse os olhos da matéria impressa, era como se um mundo protetor se extinguisse.
A imutável realidade totalmente auto-suficiente das coisas que a envolviam começou a deprimir Agnes. Com um espanto ciumento, seu quase paralisado olhar apavorado absorveu o tapete oriental, o papel de parede azul Williamsburg, os dragões dourados no vaso chinês no aparador, o desenho de medalhões azuis dourados do sofa estofado no qual ela estava sentada. Ela se sentiu engasgada, sufocada por esses objetos cuja bojuda existência pragmática de algum modo ameaçava as mais profundas e secretas raízes de seu próprio efêmero ser. Harold, ela sabia apenas bem demais, não toleraria essa vanglória de absurdos com mesas e cadeiras; se ele não gostasse da cena diante de si, se ela o chateasse, ele a transformaria pra se adequar à sua imaginação. Se nalguma doce alucinação, lamentou Agnes, um polvo viesse pra ela serpenteando pelo chão, com padrões de roxo e laranja nos tentáculos, ela o abençoaria. Qualquer coisa pra provar que seus poderes imaginativos em formação não estivessem irremediavelmente perdidos; que seu olho não era meramente uma lente de câmera que gravava os fenômenos circundantes e os deixava desse jeito. – Uma rosa, ela se descobriu repetindo vaziamente, como uma nênia funeral, é uma rosa é uma rosa....
Uma manhã quando Agnes lia um romance, ela subitamente percebeu pra seu horror que seus olhos tinham passado por quatro páginas sem absorver o significado duma só palavra. Ela tentou de novo, mas as letras se separavam, contorcendo-se como pequenas cobras pretas malevolentes pela página sibilando um jargão intraduzível. Foi então que Agnes começou a freqüentar o cinema da esquina regularmente a cada tarde. Não importava se ela tivesse visto o filme várias vezes anteriormente; o fluido caleidoscópio de formas diante de seus olhos encantava-a num transe ritmado; as vozes, falando nalgum agradável código ininteligível, exorcizavam o silêncio mortal na sua cabeça. Finalmente, por meio de muita adulação, Agnes persuadiu Harold a comprar um aparelho de televisão em prestações. Aquilo era bem melhor que o cinema; ela podia beber licor de cereja enquanto assistia TV durante as longas tardes. Nesses últimos dias, quando Agnes saudava Harold ao retornar a cada noite, ela descobriu, com uma certa satisfação maliciosa, que o rosto dele se borrava diante do olhar dela, de forma que ela podia mudar suas feições conforme quisesse. Às vezes ela lhe dava uma pele verde-ervilha, às vezes lavanda; às vezes um nariz grego, às vezes um bico de águia.
– Mas eu gosto de licor, disse Agnes com teimosia a Harold quando, aparentes que se tornaram as tardes dela bebendo sozinha mesmo aos olhos indulgentes dele, ele pediu pra ela parar. – O licor me relaxa.
O licor, no entanto, não relaxava Agnes o suficiente pra fazê-la dormir. Cruelmente sóbria, gasto o visionário torpor do licor, ela deitava dura, retorcendo os dedos como garras nervosas nos lençóis, muito tempo depois que Harold já respirava pacífica e regularmente, no meio dalguma rara aventura maravilhosa. Com um pânico gelado crescente, Agnes permanecia completamente desperta noite após noite. Pior, ela não se cansava mais. Finalmente, uma consciência soturna e clara do que estava acontecendo apareceu a ela: as cortinas do sono, da escuridão refrescante do esquecimento dividindo cada dia do dia anterior, e do dia posterior, estavam erguidas pra Agnes eterna e irrevogavelmente. Ela vislumbrou uma perspectiva intolerável de dias de vigília sem visões e noites se estendendo inteiras diante dela, sua mente condenada ao perfeito vazio, sem uma única imagem própria pra defendê-la do assalto devastador de mesas e cadeiras esnobes e autônomas. Ela poderia, refletiu Agnes doentiamente, viver até os cem anos: as mulheres na sua família eram todas longevas.
Dr Marcus, o médico da família Higgins, procurou, de maneira jovial, assegurar Agnes sobre suas reclamações de insônia: – Apenas um pouco de tensão nervosa, é só isso. Tome uma dessas cápsulas à noite por um período e veja como você dorme.
Agnes não perguntou ao Dr Marcus se as pílulas lhe dariam sonhos; ela pôs a caixa de cinqüenta pílulas na bolsa e tomou o ônibus pra casa.
Dois dias depois, na última sexta-feira de Setembro, quando Harold voltou do trabalho (ele tinha fechado os olhos durante toda a hora de viagem do trem, fingindo sono mas na realidade viajando num barco de velas cereja sobre um rio luminoso onde elefantes brancos se apinhavam e vagavam sobre a superfície cristalina da água à sombra de minaretes mouros fabricados completamente com vidro multi-colorido), ele encontrou Agnes deitada no sofá da sala, vestida com seu longo preferido de tafetá esmeralda estilo princesa, pálida e adorável como um lírio marrom, olhos fechados, uma caixinha de pílulas vazia e um copo de água virado no tapete ao seu lado. As feições tranqüilas dela estavam paradas num secreto meio-sorriso de triunfo, como se, numa longínqua terra inatingível aos mortais, ela estivesse, finalmente, valsando com o escuro príncipe de capa vermelha dos seus primeiros sonhos.
Sylvia Plath
Ivan Justen Santana
sexta-feira, julho 13, 2007
quinta-feira, julho 12, 2007
Sylvia Plath: a canção
ouça e veja aqui
Sylvia Plath
I wish I had a Sylvia Plath
Busted tooth and a smile
And cigarette ashes in her drink
The kind that goes out and then sleeps for a week
The kind that goes out on her own
To give me a reason, for well, I dunno
Eu queria ter uma Sylvia Plath
dentes estragados e um sorriso
e cinzas de cigarro na sua bebida
o tipo que sai e depois dorme uma vida
o tipo que sai por si só
pra me dar uma razão, sei lá
And maybe she'd take me to France
Or maybe to Spain and she'd ask me to dance
In a mansion on the top of a hill
She'd dash on the carpets
And slip me a pill
Then she'd get pretty loaded on gin
And maybe she'd give me a bath
How I wish I had a Sylvia Plath
E talvez ela me levasse pra França
ou pra Espanha e me concedesse uma dança
numa mansão no alto da colina
ela se jogaria nos tapetes
e me descolaria uma bolinha
então ela encheria a cara de gim
e talvez me desse um banho de arremate
- como eu gostaria de ter uma Sylvia Plath
And she and I would sleep on a boat
And swim in the sea without clothes
With rain falling fast on the sea
While she was swimming away, she'd be winking at me
Telling me it would all be okay
Out on the horizon and fading away
And I'd swim to the boat and I'd laugh
I gotta get me a Sylvia Plath
E eu e ela dormiríamos num barco
e nadaríamos no mar os dois pelados
com a chuva caindo calma no mar
enquanto ela nadasse pra longe, piscando pra mim
me dizendo que tudo estava bem
lá no horizonte e desaparecendo
e eu nadaria pro barco rindo dessa arte
- preciso arranjar pra mim uma Sylvia Plath
And maybe she'd take me to France
Or maybe to Spain and she'd ask me to dance
In a mansion on the top of a hill
She'd dash on the carpets
And slip me a pill
Then she'd get pretty loaded on gin
And maybe she'd give me a bath
How I wish I had a Sylvia Plath
I wish I had a Sylvia Plath
E talvez ela me levasse pra França
ou talvez Espanha e me concedesse uma dança
numa mansão no alto da colina
ela se jogaria nos tapetes
e me descolaria uma bolinha
então ela encheria a cara de gim
e talvez me desse um banho de arremate
- eu gostaria de ter uma Sylvia Plath
Ryan Adams
Ivan Justen Santana
Sylvia Plath
I wish I had a Sylvia Plath
Busted tooth and a smile
And cigarette ashes in her drink
The kind that goes out and then sleeps for a week
The kind that goes out on her own
To give me a reason, for well, I dunno
Eu queria ter uma Sylvia Plath
dentes estragados e um sorriso
e cinzas de cigarro na sua bebida
o tipo que sai e depois dorme uma vida
o tipo que sai por si só
pra me dar uma razão, sei lá
And maybe she'd take me to France
Or maybe to Spain and she'd ask me to dance
In a mansion on the top of a hill
She'd dash on the carpets
And slip me a pill
Then she'd get pretty loaded on gin
And maybe she'd give me a bath
How I wish I had a Sylvia Plath
E talvez ela me levasse pra França
ou pra Espanha e me concedesse uma dança
numa mansão no alto da colina
ela se jogaria nos tapetes
e me descolaria uma bolinha
então ela encheria a cara de gim
e talvez me desse um banho de arremate
- como eu gostaria de ter uma Sylvia Plath
And she and I would sleep on a boat
And swim in the sea without clothes
With rain falling fast on the sea
While she was swimming away, she'd be winking at me
Telling me it would all be okay
Out on the horizon and fading away
And I'd swim to the boat and I'd laugh
I gotta get me a Sylvia Plath
E eu e ela dormiríamos num barco
e nadaríamos no mar os dois pelados
com a chuva caindo calma no mar
enquanto ela nadasse pra longe, piscando pra mim
me dizendo que tudo estava bem
lá no horizonte e desaparecendo
e eu nadaria pro barco rindo dessa arte
- preciso arranjar pra mim uma Sylvia Plath
And maybe she'd take me to France
Or maybe to Spain and she'd ask me to dance
In a mansion on the top of a hill
She'd dash on the carpets
And slip me a pill
Then she'd get pretty loaded on gin
And maybe she'd give me a bath
How I wish I had a Sylvia Plath
I wish I had a Sylvia Plath
E talvez ela me levasse pra França
ou talvez Espanha e me concedesse uma dança
numa mansão no alto da colina
ela se jogaria nos tapetes
e me descolaria uma bolinha
então ela encheria a cara de gim
e talvez me desse um banho de arremate
- eu gostaria de ter uma Sylvia Plath
Ryan Adams
Ivan Justen Santana
terça-feira, julho 10, 2007
terça-feira, junho 26, 2007
Loquax Wonka novamente... E feliz aniversário...
Hoje, no Wonka Bar (ali na Trajano Reis, todo mundo sabe onde), voltarei a atacar com minha eloqüência juvenil, auxiliado pela minha querida banda, os Dublês de Dublin.
Hoje também é aniversário da Zoe: e eu fiz essa postagem com tanto atraso que espero que pelo menos uma alma viva tome conhecimento e apareça lá hoje...
terça-feira, junho 19, 2007
O Sonho, de Henri Rousseau...
Yadwigha dans un beau rêve
s'étant endormie doucement
entendait les sons d'une musette
dont jouait un charmeur bien pensant.
Pendant que la lune reflète
sur les fleurs, les arbres verdoyants,
les fauves serpents prêtent l'oreille
aux airs gais de l'instrument.
s'étant endormie doucement
entendait les sons d'une musette
dont jouait un charmeur bien pensant.
Pendant que la lune reflète
sur les fleurs, les arbres verdoyants,
les fauves serpents prêtent l'oreille
aux airs gais de l'instrument.
Yadwigha em belo sonho
cochilava docemente
escutando os sons da flauta
que tocava um feiticeiro
enquanto a lua refletia
sobre rios e arbustos verdes
as serpentes dando ouvidos
a essas árias tão alegres
versão brasileira: Ivan Justen Santana
quarta-feira, junho 13, 2007
BLOOMSDAY NESTE SÁBADO, NÃO PERDAM! (se perderem não tem perdão...)
Neste dia 16 de junho,
o próximo Sábado,
às 16 horas,
na sede do Centro Paranaense Feminino de Cultura
(Rua Visconde do Rio Branco, 1717 – fone 3232-8123),
acontecerá a palestra:
Diálogos em torno do Ulysses:
Joyce x Shakespeare - Dalton x Leminski
com o professor de literatura Ivan Justen Santana
(eu mesmo, em pessoa).
Em seguida, apresentação de pré-estréia da dupla curitibana
Dublês de Dublin
executando composições próprias e a folclórica Finnegans Wake , canção que serviu de inspiração para Joyce em seu romance mais radical e inovador.
A entrada é franca e quem estiver presente ganhará de presente o texto original da canção e a magnífica versão brasileira, adubada pelos estapafúrdios e dubilíngües Dubladores dos Dribles (outro dos codinomes desta dupla tão dúbia...)...
o próximo Sábado,
às 16 horas,
na sede do Centro Paranaense Feminino de Cultura
(Rua Visconde do Rio Branco, 1717 – fone 3232-8123),
acontecerá a palestra:
Diálogos em torno do Ulysses:
Joyce x Shakespeare - Dalton x Leminski
com o professor de literatura Ivan Justen Santana
(eu mesmo, em pessoa).
Em seguida, apresentação de pré-estréia da dupla curitibana
Dublês de Dublin
executando composições próprias e a folclórica Finnegans Wake , canção que serviu de inspiração para Joyce em seu romance mais radical e inovador.
A entrada é franca e quem estiver presente ganhará de presente o texto original da canção e a magnífica versão brasileira, adubada pelos estapafúrdios e dubilíngües Dubladores dos Dribles (outro dos codinomes desta dupla tão dúbia...)...
Faça como Marylin Monroe e leia o Ulysses brincando...
sábado, junho 09, 2007
Nossos Williams são mais Butlers, nossos Yeats muito mais Yeats... Mas gentis como eles são, agradecem a edição...
THE PITY OF LOVE
A PIEDADE DO AMOR
A Pity beyond all telling
Piedade além da verve
Is hid in the heart of Love:
Oculta-se em peito de Amor:
The folk who are buying and selling,
Gente que compra e que vende,
The clouds on their journey above,
Nuvens do vento ao sabor,
The cold wet winds ever blowing,
Ventos soprando pra sempre,
And the shadowy hazel grove
E o sombrio bosque marrom
Where mouse-grey waters are flowing,
Onde as águas cinzas seguem,
Threaten the head that I love.
Ameaçam meu amor.
***
THE SORROW OF LOVE
A TRISTEZA DO AMOR
The brawling of a sparrow in the eaves,
The brilliant moon and all the milky sky,
And all that famous harmony of leaves,
Had blotted out man's image and his cry.
O bulir dum pardal pelas beiradas,
O brilho da lua e o lácteo céu infinito,
E toda a famosa harmonia das floradas,
Mancharam a imagem humana e seu grito.
A girl arose that had red mournful lips
And seemed the greatness of the world in tears,
Doomed like Odysseus and the labouring ships
And proud as Priam murdered with his peers;
Uma garota ergueu-se rubros lábios enlutados
E parecia a grandeza do mundo em lágrimas,
Condenada como Ulisses e os navios danados
E audaz qual Príamo caindo com seus pares;
Arose, and on the instant clamorous eaves,
A climbing moon upon an empty sky,
And all that lamentation of the leaves,
Could but compose man's image and his cry.
Ergueu-se, e presto as clamorosas beiradas,
Uma lua escaladora sobre um céu infinito,
E toda aquela lamentação das floradas,
Não compunham a imagem humana e seu grito.
William Butler Yeats
Ivan Justen Santana
***
Essas duas versões brasileiras de Yeats são dedicadas à admirável Araiê, a qual solicitou-me uma boa tradução do THE SORROW OF LOVE, num comentário bem anterior neste blog.
Ela colocou nesse comentário o texto primitivo do poema, publicado pela primeira vez em 1892 (uma tradução bem ruinzinha dessa primeira versão, mas com notas bem detalhadas, pode ser vista aqui.)
Roman Jakobson dedicou um ensaio inteiro a esse poema de Yeats e as transformações nele operadas. Algo parecido pode ser lido aqui: eu recomendo amplamente...
Nota: agradeço a retificação necessária, porque realmente nenhum Yeats é mais Yeats que o verdadeiro Yeats...
A PIEDADE DO AMOR
A Pity beyond all telling
Piedade além da verve
Is hid in the heart of Love:
Oculta-se em peito de Amor:
The folk who are buying and selling,
Gente que compra e que vende,
The clouds on their journey above,
Nuvens do vento ao sabor,
The cold wet winds ever blowing,
Ventos soprando pra sempre,
And the shadowy hazel grove
E o sombrio bosque marrom
Where mouse-grey waters are flowing,
Onde as águas cinzas seguem,
Threaten the head that I love.
Ameaçam meu amor.
***
THE SORROW OF LOVE
A TRISTEZA DO AMOR
The brawling of a sparrow in the eaves,
The brilliant moon and all the milky sky,
And all that famous harmony of leaves,
Had blotted out man's image and his cry.
O bulir dum pardal pelas beiradas,
O brilho da lua e o lácteo céu infinito,
E toda a famosa harmonia das floradas,
Mancharam a imagem humana e seu grito.
A girl arose that had red mournful lips
And seemed the greatness of the world in tears,
Doomed like Odysseus and the labouring ships
And proud as Priam murdered with his peers;
Uma garota ergueu-se rubros lábios enlutados
E parecia a grandeza do mundo em lágrimas,
Condenada como Ulisses e os navios danados
E audaz qual Príamo caindo com seus pares;
Arose, and on the instant clamorous eaves,
A climbing moon upon an empty sky,
And all that lamentation of the leaves,
Could but compose man's image and his cry.
Ergueu-se, e presto as clamorosas beiradas,
Uma lua escaladora sobre um céu infinito,
E toda aquela lamentação das floradas,
Não compunham a imagem humana e seu grito.
William Butler Yeats
Ivan Justen Santana
***
Essas duas versões brasileiras de Yeats são dedicadas à admirável Araiê, a qual solicitou-me uma boa tradução do THE SORROW OF LOVE, num comentário bem anterior neste blog.
Ela colocou nesse comentário o texto primitivo do poema, publicado pela primeira vez em 1892 (uma tradução bem ruinzinha dessa primeira versão, mas com notas bem detalhadas, pode ser vista aqui.)
Roman Jakobson dedicou um ensaio inteiro a esse poema de Yeats e as transformações nele operadas. Algo parecido pode ser lido aqui: eu recomendo amplamente...
Nota: agradeço a retificação necessária, porque realmente nenhum Yeats é mais Yeats que o verdadeiro Yeats...
segunda-feira, junho 04, 2007
Enquanto a filhinha não vem...
Full Moon and Little Frieda
Lua Cheia e Pequena Frieda
A cool small evening shrunk to a dog bark and the clank of a bucket-
Uma tardinha fria encolheu a um latido de cão e o estalo de um balde-
And you listening.
A spider´s web, tense for the dew´s touch.
A pail lifted, still and brimming - mirror
To tempt a first star to a tremor.
E você escutando.
Uma teia de aranha, tensa com o toque do sereno.
Um vaso erguido, parado e quase transbordando - espelho
A tentar uma primeira estrela a um tremor.
Cows are going home in the lane there, looping the hedges with their warm wreaths of breath-
A dark river of blood, many boulders,
Balancing unspilled milk.
Vacas já vão indo para casa no caminho acolá, circulando as ramagens com suas mornas coroas de bafo-
Um rio escuro de sangue, muito pedregoso,
Equilibrando leite não-derramado.
“Moon!’ you cry suddenly, ‘Moon! Moon!’
– Lua! você grita subitamente: Lua! Lua!
The moon has stepped back like an artist gazing amazed at a work
That points at him amazed.
A lua deu um passo atrás como um artista mirando maravilhado uma obra
Que aponta para ele maravilhada.
Ted Hughes
Versãozinha brasileirinha:
Ivan Justen, o tradutorzinho-problema.
Lua Cheia e Pequena Frieda
A cool small evening shrunk to a dog bark and the clank of a bucket-
Uma tardinha fria encolheu a um latido de cão e o estalo de um balde-
And you listening.
A spider´s web, tense for the dew´s touch.
A pail lifted, still and brimming - mirror
To tempt a first star to a tremor.
E você escutando.
Uma teia de aranha, tensa com o toque do sereno.
Um vaso erguido, parado e quase transbordando - espelho
A tentar uma primeira estrela a um tremor.
Cows are going home in the lane there, looping the hedges with their warm wreaths of breath-
A dark river of blood, many boulders,
Balancing unspilled milk.
Vacas já vão indo para casa no caminho acolá, circulando as ramagens com suas mornas coroas de bafo-
Um rio escuro de sangue, muito pedregoso,
Equilibrando leite não-derramado.
“Moon!’ you cry suddenly, ‘Moon! Moon!’
– Lua! você grita subitamente: Lua! Lua!
The moon has stepped back like an artist gazing amazed at a work
That points at him amazed.
A lua deu um passo atrás como um artista mirando maravilhado uma obra
Que aponta para ele maravilhada.
Ted Hughes
Versãozinha brasileirinha:
Ivan Justen, o tradutorzinho-problema.
terça-feira, maio 29, 2007
Um poema de Robert Desnos
Conte de fée
Il était un grand nombre de fois,
Un homme qui aimait une femme,
Il était un grand nombre de fois,
Une femme qui aimait une homme,
Il était un grand nombre de fois,
Une femme et un homme,
Qui n'aimaient pas celui et celle qui les aimaient,
Il était une seule fois,
Une seule fois peut-être,
Une femme et un homme qui s'aimaient
Conto de Fadas
Era uma porção de vezes,
Um homem que amava uma mulher,
Era uma porção de vezes,
Uma mulher que amava um homem,
Era uma porção de vezes,
Uma mulher e um homem,
Que não amavam aquele e aquela que os amavam,
Era uma só vez,
Uma só vez talvez,
Uma mulher e um homem que se amavam
(versão brasileira: Ivan & Monica)
Il était un grand nombre de fois,
Un homme qui aimait une femme,
Il était un grand nombre de fois,
Une femme qui aimait une homme,
Il était un grand nombre de fois,
Une femme et un homme,
Qui n'aimaient pas celui et celle qui les aimaient,
Il était une seule fois,
Une seule fois peut-être,
Une femme et un homme qui s'aimaient
Conto de Fadas
Era uma porção de vezes,
Um homem que amava uma mulher,
Era uma porção de vezes,
Uma mulher que amava um homem,
Era uma porção de vezes,
Uma mulher e um homem,
Que não amavam aquele e aquela que os amavam,
Era uma só vez,
Uma só vez talvez,
Uma mulher e um homem que se amavam
(versão brasileira: Ivan & Monica)
sexta-feira, maio 18, 2007
DIE INSEL DER SIRENEN
Wenn er denen, die ihm gastlich waren,
spät, nach ihrem Tage noch, da sie
fragten nach den Fahrten und Gefahren,
still berichtete: er wußte nie, wie sie
Nightly, after all their day’s travail,
since his gracious hosts had asked about
his journeys and sojourns, he will regale
them softly with his yarns: and yet without
Quando ai suoi ospiti che domandavano,
alla fine del loro giorno, dei
suoi viaggi sul mare e dei pericoli,
tranquillo raccontava, non sapeva
Quando, atendendo a seus anfitriões,
após o dia inteiro de trabalho, narrava
suas viagens marítimas e tribulações
em voz calma, nem sequer suspeitava
schrecken und mit welchem jähen
Wort sie wenden, daß sie so wie er
in dem blau gestillten Inselmeer
die Vergoldung jener Inseln sähen,
suspecting how they started, and at which
bold word they turned to see, like him, in those
calm, blue island-studded seas how rich
the golden shimmer of that island glows,
mai come spaventarli e quali forti
parole usare perchè come lui
nell'azzurro pacifico arcipelago
vedessero il dorato colore di quell'isole
como apavorá-los, e quais intempestivas
palavras usar para que, como ele viu
naquele tranqüilo arquipélago anil,
também os ofuscasse o dourado das ilhas
deren Anblick macht, daß die Gefahr
umschlägt; denn nun ist sie nicht im Tosen
und im Wüten, wo sie immer war.
Lautlos kommt sie über die Matrosen,
just the sight of which evokes the scent
of danger, well removed from far more common
rage and wrath, where it was often spent.
Soundlessly it overtakes the seamen,
la cui vista fa sì che muti volto
il pericolo, e non è più nel rombo,
non nel tumulto come sempre era;
ma senza suono assale i marinai
cuja mera visão traz novamente
o perigo, e não mais nos repuxos
da fúria em tumulto, como sempre;
mas sem um som toma os marujos
welche wissen, daß es dort auf jenen
goldnen Inseln manchmal singt -,
und sich blindlings in die Ruder lehnen,
wie umringt
who understand that sometimes song will soar
from that golden island’s boundary,
and who apply themselves now to the oars
as though surrounded
i quali sanno che là su quell'isole dorate
qualche volta s'ode un canto,
ed alla cieca premono sui remi,
come accerchiati
que sabem: algumas vezes se ouve
um canto vindo das ilhas douradas -
e se lançam aos remos como se
estivessem cercados
von der Stille, die die ganze Weite
in sich hat und an die Ohren weht,
so als wäre ihre andre Seite
der Gesang, dem keiner widersteht.
by the silence which within holds all
of that expanse, and at their ears insists,
as though its obverse were that very call
which no mere mortal ever can resist.
da quel silenzio che tutto lo spazio
immenso ha in sè e nelle orecchie spira
quasi fosse la faccia opposta del silenzio
il canto cui nessun uomo resiste.
pelo silêncio que no espaço imenso
existe, e nos seus ouvidos insiste,
como se o seu inverso fosse o denso
canto a que nenhum homem resiste.
Rainer Maria Rilke
spät, nach ihrem Tage noch, da sie
fragten nach den Fahrten und Gefahren,
still berichtete: er wußte nie, wie sie
Nightly, after all their day’s travail,
since his gracious hosts had asked about
his journeys and sojourns, he will regale
them softly with his yarns: and yet without
Quando ai suoi ospiti che domandavano,
alla fine del loro giorno, dei
suoi viaggi sul mare e dei pericoli,
tranquillo raccontava, non sapeva
Quando, atendendo a seus anfitriões,
após o dia inteiro de trabalho, narrava
suas viagens marítimas e tribulações
em voz calma, nem sequer suspeitava
schrecken und mit welchem jähen
Wort sie wenden, daß sie so wie er
in dem blau gestillten Inselmeer
die Vergoldung jener Inseln sähen,
suspecting how they started, and at which
bold word they turned to see, like him, in those
calm, blue island-studded seas how rich
the golden shimmer of that island glows,
mai come spaventarli e quali forti
parole usare perchè come lui
nell'azzurro pacifico arcipelago
vedessero il dorato colore di quell'isole
como apavorá-los, e quais intempestivas
palavras usar para que, como ele viu
naquele tranqüilo arquipélago anil,
também os ofuscasse o dourado das ilhas
deren Anblick macht, daß die Gefahr
umschlägt; denn nun ist sie nicht im Tosen
und im Wüten, wo sie immer war.
Lautlos kommt sie über die Matrosen,
just the sight of which evokes the scent
of danger, well removed from far more common
rage and wrath, where it was often spent.
Soundlessly it overtakes the seamen,
la cui vista fa sì che muti volto
il pericolo, e non è più nel rombo,
non nel tumulto come sempre era;
ma senza suono assale i marinai
cuja mera visão traz novamente
o perigo, e não mais nos repuxos
da fúria em tumulto, como sempre;
mas sem um som toma os marujos
welche wissen, daß es dort auf jenen
goldnen Inseln manchmal singt -,
und sich blindlings in die Ruder lehnen,
wie umringt
who understand that sometimes song will soar
from that golden island’s boundary,
and who apply themselves now to the oars
as though surrounded
i quali sanno che là su quell'isole dorate
qualche volta s'ode un canto,
ed alla cieca premono sui remi,
come accerchiati
que sabem: algumas vezes se ouve
um canto vindo das ilhas douradas -
e se lançam aos remos como se
estivessem cercados
von der Stille, die die ganze Weite
in sich hat und an die Ohren weht,
so als wäre ihre andre Seite
der Gesang, dem keiner widersteht.
by the silence which within holds all
of that expanse, and at their ears insists,
as though its obverse were that very call
which no mere mortal ever can resist.
da quel silenzio che tutto lo spazio
immenso ha in sè e nelle orecchie spira
quasi fosse la faccia opposta del silenzio
il canto cui nessun uomo resiste.
pelo silêncio que no espaço imenso
existe, e nos seus ouvidos insiste,
como se o seu inverso fosse o denso
canto a que nenhum homem resiste.
Rainer Maria Rilke
segunda-feira, maio 14, 2007
sexta-feira, maio 11, 2007
Do not go gentle into that good night
Não entre nesta boa noite com brandura
Não entre nesta boa noite com brandura,
A idade deve arder e curtir muito ao fim do dia;
Ruja, ruja contra a luz que morre e não fulgura.
Os sábios, que ao fim sabem como a noite é escura,
Porque a rede das suas palavras acabou vazia,
Não entram nesta boa noite com brandura.
Os homens bons, ao dar adeus, gritando quão pura-
Mente seus feitos frágeis bailariam em verde baía,
Rugem, rugem contra a luz que morre e não fulgura.
Os homens loucos, que cantaram o sol na captura,
E aprendem tarde: só o lamentavam em sua via,
Não entram nesta boa noite com brandura.
Os homens graves, à morte, vendo com cega finura
Que feito um meteoro o olho cego brilharia,
Rugem, rugem contra a luz que morre e não fulgura.
E você, meu pai, aí da sua triste altura,
Clame, abençoe irado em lágrimas esta prece arredia.
Não entre nesta boa noite com brandura.
Ruja, ruja contra a luz que morre e não fulgura.
Dylan Thomas
Traduzido por Ivan Justen Santana
Não entre nesta boa noite com brandura,
A idade deve arder e curtir muito ao fim do dia;
Ruja, ruja contra a luz que morre e não fulgura.
Os sábios, que ao fim sabem como a noite é escura,
Porque a rede das suas palavras acabou vazia,
Não entram nesta boa noite com brandura.
Os homens bons, ao dar adeus, gritando quão pura-
Mente seus feitos frágeis bailariam em verde baía,
Rugem, rugem contra a luz que morre e não fulgura.
Os homens loucos, que cantaram o sol na captura,
E aprendem tarde: só o lamentavam em sua via,
Não entram nesta boa noite com brandura.
Os homens graves, à morte, vendo com cega finura
Que feito um meteoro o olho cego brilharia,
Rugem, rugem contra a luz que morre e não fulgura.
E você, meu pai, aí da sua triste altura,
Clame, abençoe irado em lágrimas esta prece arredia.
Não entre nesta boa noite com brandura.
Ruja, ruja contra a luz que morre e não fulgura.
Dylan Thomas
Traduzido por Ivan Justen Santana
segunda-feira, maio 07, 2007
anyone lived in a pretty how town
qualquerum vivia numa cidade bem qual
qualquerum vivia numa cidade bem qual
(com tão flutuantes muitos sinos acima e tal)
primavera verão outono inverno
ele cantava seus nãos ele dançava seus sins.
Mulheres e homens(os pequenos e os menos)
ligavam pra qualquerum um nada e menos
eles semeavam seus nens eles colhiam seus mesmos
sol lua estrelas chuva
crianças desconfiavam(mas poucas seriam
e abaixo esqueciam enquanto acima cresciam
outono inverno primavera verão)
que nenhuma o amava mais por mais
quando por ora e árvore por folha
ela ria sua alegria ela chorava sua tristeza
pássaro por neve e chocalho por leve
o qualquer de qualquerum era tudo pra ela
alguéns casaram seus todomundos
riram seus choros e fizeram sua dança
(sono vigília esperança e então)eles
disseram seus nuncas eles dormiram seu sonho
(estrelas chuva lua sol
e somente a neve começaria a explicar
como as crianças sabem se esquecer de lembrar
com tão flutuantes muitos sinos acima e tal)
um dia qualquerum morreu eu acho
(e nenhuma dobrou-se para beijar seu rosto)
pessoas ocupadas os enterraram lado a lado
pouco por pouco e foi por foi
todos por todos e fundo por fundo
e mais por mais eles sonharam seu sono
nenhuma e qualquerum terra por abril
desejo por espírito e se por sim.
Mulheres e homens(ambos dom e dim)
verão outono inverno primavera
colheram sua semeadura e foram seu vieram
lua sol estrelas chuva
e.e.cummings
i.j.santana
...
segunda-feira, abril 16, 2007
Assim não fica mais fácil?
Ariadne was wandering distraught along the lonely wave-beaten shores of Naxos.
Scarce had sleep departed from her eyes, and she wore but an airy shift;
her feet were bare and her fair tresses were blowing about her shoulders.
To the heedless billows she was crying wildly for her Theseus,
and tears flowed in torrents down her cheeks.
She cried aloud and wept at the same time.
But both enhanced her beauty.
"Oh, the faithless one," she cried, beating her tender bosom again and again,
"he has abandoned me. Oh, what will become of me! What will be my fate!"
She spake. And on a sudden, drums and cymbals
beaten and tossed by frenzied hands resounded along the shore.
Stricken with terror, she fell gasping out a few broken words,
and the blood faded from her lifeless corpse.
But lo, the Mænads, with their hair floating wildly out behind them,
and the light-footed Satyrs, the rout that leads the procession of Apollo,
came upon the scene. Behold, old Silenus, reeling-ripe as usual,
who can scarce keep his seat on the ass that staggers beneath the heavy burden.
He pursues the Mænads, who flee from him and mock him as they flee,
and as he belabours his long-eared beast with his staff,
the unskilful cavalier tumbles head-foremost from his steed.
And all the Satyrs shout, "Up with you, old man Silenus, up with you again!"
Meanwhile from his lofty chariot with vine branches all bedecked,
the god, handling the golden reins, drives on his team of tigers.
The girl, in losing Theseus, had lost her colour and her voice.
Thrice she attempted flight, thrice did fear paralyse her steps;
she shuddered, she trembled like the tapering stem or the slender reed that sways at the slightest breath.
"Banish all thy fears," cried the god. "In me thou findest a tenderer, more faithful lover than Theseus. Daughter of Minos, thou shalt be the bride of Bacchus. Thy guerdon shall be a dwelling in the sky; thou shalt be a new star and thy bright diadem shall be a guide to the pilot uncertain of his course." So saying he leapt from his chariot lest his tigers should affright her. The sand yielded beneath his feet. Clasping to his breast the swooning, unresisting girl, he bore her away. For a god may do as he wills, and who shall say him nay.
http://www.sacred-texts.com/cla/ovid/lboo/lboo58.htm
Scarce had sleep departed from her eyes, and she wore but an airy shift;
her feet were bare and her fair tresses were blowing about her shoulders.
To the heedless billows she was crying wildly for her Theseus,
and tears flowed in torrents down her cheeks.
She cried aloud and wept at the same time.
But both enhanced her beauty.
"Oh, the faithless one," she cried, beating her tender bosom again and again,
"he has abandoned me. Oh, what will become of me! What will be my fate!"
She spake. And on a sudden, drums and cymbals
beaten and tossed by frenzied hands resounded along the shore.
Stricken with terror, she fell gasping out a few broken words,
and the blood faded from her lifeless corpse.
But lo, the Mænads, with their hair floating wildly out behind them,
and the light-footed Satyrs, the rout that leads the procession of Apollo,
came upon the scene. Behold, old Silenus, reeling-ripe as usual,
who can scarce keep his seat on the ass that staggers beneath the heavy burden.
He pursues the Mænads, who flee from him and mock him as they flee,
and as he belabours his long-eared beast with his staff,
the unskilful cavalier tumbles head-foremost from his steed.
And all the Satyrs shout, "Up with you, old man Silenus, up with you again!"
Meanwhile from his lofty chariot with vine branches all bedecked,
the god, handling the golden reins, drives on his team of tigers.
The girl, in losing Theseus, had lost her colour and her voice.
Thrice she attempted flight, thrice did fear paralyse her steps;
she shuddered, she trembled like the tapering stem or the slender reed that sways at the slightest breath.
"Banish all thy fears," cried the god. "In me thou findest a tenderer, more faithful lover than Theseus. Daughter of Minos, thou shalt be the bride of Bacchus. Thy guerdon shall be a dwelling in the sky; thou shalt be a new star and thy bright diadem shall be a guide to the pilot uncertain of his course." So saying he leapt from his chariot lest his tigers should affright her. The sand yielded beneath his feet. Clasping to his breast the swooning, unresisting girl, he bore her away. For a god may do as he wills, and who shall say him nay.
http://www.sacred-texts.com/cla/ovid/lboo/lboo58.htm
quarta-feira, abril 11, 2007
quinta-feira, abril 05, 2007
A imagem é a única pista: decifre o texto e indique autor e obra, se for capaz...
CNOSIS.IN.IGNOTIS.AMENS.ERRABAT.ARENIS
QVA.BREVIS.AEQVOREIS.DIA.FERITVR.AQVIS
VIQVE.ERAT.E SOMNO.TVNICA.VELATA.RECINCTA
NVDA.PEDEM.CROCEAS.IRRELIGATA.COMAS
THESEA.CRVDELEM.SVRDAS.CLAMABAT.AD.VNDAS
INDIGNO.TENERAS.IMBRE.RIGANTE.GENAS
CLAMABAT.FLEBATQVE.SIMVL.SED.VTRVMQVE.DECEBAT
NON.FACTA.EST.LACRIMIS.TVRPIOR.ILLA.SVIS
IAMQVE.ITERVM.TVNDENS.MOLISSIMA.PECTORA.PALMIS
PERFIDVS.ILLE.ABIIT.QVID.MIHI.FIET.AIT
QVID.MIHI.FIET.AIT.SONVERVNT.CYMBALA.TOTO
LITORE.ET.ATTONITA.TYMPANA.PVLSA.MANV
EXCIDIT.ILLA.METV.RVPITQVE.NOVISSIMA.VERBA
NVLLVS.IN.EXANIMI.CORPORE.SANGVIS.ERAT
ECCE.MIMALLONIDES.SPARSIS.IN.TERGA.CAPILLIS
ECCE.LEVES.SATYRI.PRAEVIA.TURBA.DEI
EBRIVS.ECCE.SENEX.PANDO.SILENVS.ASELLO
VIX.SEDET.ET.PRESSAS.CONTINET.ARTE.IVBAS
DVM.SEQVITVR.BACCHAS.BACCHAE.FVGIVNTQVE.PETVNTQVE
QVADRVPEDEM.FERVLA.DVM.MALVS.VRGET.EQVES
INCAPVT.AVRITO.CECIDIT.DELAPSVS.ASELLO
CLAMARVNT.SATYRI.SVRGE.AGE.SVRGE.PATER
IAM.DEVS.IN.CVRRV.QVEM.SVMMVM.TEXERAT.VVIS
TIGRIBVS.ADIVNCTIS.AVREA.LORA.DABAT
ET.COLOR.ET.THESEVS.ET.VOX.ABIERE.PVELLAE
TERQVE.FVGAM.PETIIT.TERQVE.RETENTA.METV.EST
HORRVIT.VT.STERILES.AGITAT.QVAS.VENTVS.ARISTAS
VT.LEVIS.IN.MADIDA.CANNA.PALVDE.TREMIT
CVI.DEVS.EM.ADSVM.TIBI.CVRA.FIDELIOR.INQVIT
PONE METVM.BACCHI.GNOSIAS.UXOR.ERIS
MVNVS.HABE.CAELVM.CAELO.SPECTABERE.SIDVS
SAEPE.REGET.DVBIAM.CRESSA.CORONA.RATEM
DIXIT.ET.E.CVRRV.NE.TIGRES.ILLA.TIMERET
DEISILIT.IMPOSITO.CESSIT.ARENA.PEDE
IMPLICITANQVE.SINU.NEQVE.ENIM.PVGNARE.VALEBAT
ABSTVLIT.IN.FACILI.EST.OMNIA.POSSE.DEO
QVA.BREVIS.AEQVOREIS.DIA.FERITVR.AQVIS
VIQVE.ERAT.E SOMNO.TVNICA.VELATA.RECINCTA
NVDA.PEDEM.CROCEAS.IRRELIGATA.COMAS
THESEA.CRVDELEM.SVRDAS.CLAMABAT.AD.VNDAS
INDIGNO.TENERAS.IMBRE.RIGANTE.GENAS
CLAMABAT.FLEBATQVE.SIMVL.SED.VTRVMQVE.DECEBAT
NON.FACTA.EST.LACRIMIS.TVRPIOR.ILLA.SVIS
IAMQVE.ITERVM.TVNDENS.MOLISSIMA.PECTORA.PALMIS
PERFIDVS.ILLE.ABIIT.QVID.MIHI.FIET.AIT
QVID.MIHI.FIET.AIT.SONVERVNT.CYMBALA.TOTO
LITORE.ET.ATTONITA.TYMPANA.PVLSA.MANV
EXCIDIT.ILLA.METV.RVPITQVE.NOVISSIMA.VERBA
NVLLVS.IN.EXANIMI.CORPORE.SANGVIS.ERAT
ECCE.MIMALLONIDES.SPARSIS.IN.TERGA.CAPILLIS
ECCE.LEVES.SATYRI.PRAEVIA.TURBA.DEI
EBRIVS.ECCE.SENEX.PANDO.SILENVS.ASELLO
VIX.SEDET.ET.PRESSAS.CONTINET.ARTE.IVBAS
DVM.SEQVITVR.BACCHAS.BACCHAE.FVGIVNTQVE.PETVNTQVE
QVADRVPEDEM.FERVLA.DVM.MALVS.VRGET.EQVES
INCAPVT.AVRITO.CECIDIT.DELAPSVS.ASELLO
CLAMARVNT.SATYRI.SVRGE.AGE.SVRGE.PATER
IAM.DEVS.IN.CVRRV.QVEM.SVMMVM.TEXERAT.VVIS
TIGRIBVS.ADIVNCTIS.AVREA.LORA.DABAT
ET.COLOR.ET.THESEVS.ET.VOX.ABIERE.PVELLAE
TERQVE.FVGAM.PETIIT.TERQVE.RETENTA.METV.EST
HORRVIT.VT.STERILES.AGITAT.QVAS.VENTVS.ARISTAS
VT.LEVIS.IN.MADIDA.CANNA.PALVDE.TREMIT
CVI.DEVS.EM.ADSVM.TIBI.CVRA.FIDELIOR.INQVIT
PONE METVM.BACCHI.GNOSIAS.UXOR.ERIS
MVNVS.HABE.CAELVM.CAELO.SPECTABERE.SIDVS
SAEPE.REGET.DVBIAM.CRESSA.CORONA.RATEM
DIXIT.ET.E.CVRRV.NE.TIGRES.ILLA.TIMERET
DEISILIT.IMPOSITO.CESSIT.ARENA.PEDE
IMPLICITANQVE.SINU.NEQVE.ENIM.PVGNARE.VALEBAT
ABSTVLIT.IN.FACILI.EST.OMNIA.POSSE.DEO
segunda-feira, abril 02, 2007
Tradução de hoje
Quando o Homem Entra na Mulher
Anne Sexton
Quando o homem
entra na mulher,
como a onda mordendo a costa,
de novo e de novo,
e a mulher abre a boca de prazer
e seus dentes brilham
como o alfabeto,
Logos aparece ordenhando uma estrela,
e o homem
dentro da mulher
ata um nó
para que assim
nunca mais estejam separados
e a mulher
trepa numa flor
e engole seu talo
e Logos aparece
e desencadeia seus rios.
Este homem,
esta mulher
com sua dupla fome,
têm procurado penetrar
a cortina de Deus
e conseguem brevemente,
embora Deus, sem dó,
em Sua perversidade
desate o nó.
Casal Tradutor:
Ivan Justen Santana & Priscila Manhães
Anne Sexton
Quando o homem
entra na mulher,
como a onda mordendo a costa,
de novo e de novo,
e a mulher abre a boca de prazer
e seus dentes brilham
como o alfabeto,
Logos aparece ordenhando uma estrela,
e o homem
dentro da mulher
ata um nó
para que assim
nunca mais estejam separados
e a mulher
trepa numa flor
e engole seu talo
e Logos aparece
e desencadeia seus rios.
Este homem,
esta mulher
com sua dupla fome,
têm procurado penetrar
a cortina de Deus
e conseguem brevemente,
embora Deus, sem dó,
em Sua perversidade
desate o nó.
Casal Tradutor:
Ivan Justen Santana & Priscila Manhães
sexta-feira, março 30, 2007
Ao Francisco Cardoso
Aqui vai um poema feito num boteco de subúrbio, bebendo vinho barato.
Eu tinha perdido o papel, aí reconstruí o poema
(ficou diferente, mas bem igualzinho):
foi mal aí, Chico.
A promessa está na jura.
Toda cor no chifre atesta.
Saci cisca e Sara cura.
Jacaré mais sapo é festa.
Boitatá não sai na capa.
Curupira não galopa.
Toupeira não tem caçapa
Mas se der mole ela topa.
Ivan
Francisco
Eu tinha perdido o papel, aí reconstruí o poema
(ficou diferente, mas bem igualzinho):
foi mal aí, Chico.
A promessa está na jura.
Toda cor no chifre atesta.
Saci cisca e Sara cura.
Jacaré mais sapo é festa.
Boitatá não sai na capa.
Curupira não galopa.
Toupeira não tem caçapa
Mas se der mole ela topa.
Ivan
Francisco
sexta-feira, março 23, 2007
A um passo do nunca mais: o sétimo e último, no qual Ivan publica sua tradução do poema de Valéry, aguardando comentários e pedradas...
OS PASSOS
Teus passos, crianças de meu silêncio,
Santamente, lentamente dados,
Ao leito da minha vigilância
Seguem calados e enregelados.
Feito ninguém, qual sombra divina,
Como são doces teus passos-luz!
Céus!... Todos os dons que a alma adivinha
Vêm vindo a mim sobre esses pés nus!
Se com teus lábios, tão saliente,
Preparas tu, para apaziguar,
Ao habitante da minha mente
A nutrição que contém beijar,
Refreia os passos de ação tão terna,
Dulçor de ser e não ser mais (passos),
Pois sigo vivo só à vossa espera,
Meu coração sendo os vossos passos.
Tradutor Passista: Ivan Justen Santana
Teus passos, crianças de meu silêncio,
Santamente, lentamente dados,
Ao leito da minha vigilância
Seguem calados e enregelados.
Feito ninguém, qual sombra divina,
Como são doces teus passos-luz!
Céus!... Todos os dons que a alma adivinha
Vêm vindo a mim sobre esses pés nus!
Se com teus lábios, tão saliente,
Preparas tu, para apaziguar,
Ao habitante da minha mente
A nutrição que contém beijar,
Refreia os passos de ação tão terna,
Dulçor de ser e não ser mais (passos),
Pois sigo vivo só à vossa espera,
Meu coração sendo os vossos passos.
Tradutor Passista: Ivan Justen Santana
quinta-feira, março 22, 2007
Mais um passo antes do último...
O PASSO
Paul Valéry
Teu passo, inato ao meu silêncio,
Beira sagradamente, a fio,
Meu leito insone e, com imenso
Vagar, vem vindo mudo e frio.
Sombra divina, forma pura:
Deus!... tudo que de bom supus
– Passo contido, que doçura! –
Já se aproxima com pés nus.
Se, lábios entreabertos, frente
A mim, reservas ao desejo
Faminto que me ocupa a mente
Este alimento que é teu beijo,
Mantém o enlevo ainda à parte
(No doce impasse existo e passo),
Pois, ao viver só de esperar-te,
Meu coração pôs-se em teu passo.
Tradução de Nelson Ascher
Paul Valéry
Teu passo, inato ao meu silêncio,
Beira sagradamente, a fio,
Meu leito insone e, com imenso
Vagar, vem vindo mudo e frio.
Sombra divina, forma pura:
Deus!... tudo que de bom supus
– Passo contido, que doçura! –
Já se aproxima com pés nus.
Se, lábios entreabertos, frente
A mim, reservas ao desejo
Faminto que me ocupa a mente
Este alimento que é teu beijo,
Mantém o enlevo ainda à parte
(No doce impasse existo e passo),
Pois, ao viver só de esperar-te,
Meu coração pôs-se em teu passo.
Tradução de Nelson Ascher
quarta-feira, março 21, 2007
Hesitação: e finalmente o passo que vem depois do quatro e antes do seis...
OS PASSOS
Filhos que são do meu cismar,
Teus passos, santa e lentamente,
Meu leito insone vêm buscar,
Em procissão fria e silente.
Que bom teu andar comedido,
Pessoa pura e dom sem luz!
Deus! Toda graça que eu convido,
Teu pé descalço a mim conduz!
Se, com teus lábios esboçados,
Para amainar o seu desejo,
Ao dono vens de meus cuidados
Ceder o pábulo de um beijo,
Urgir não queiras a ternura,
Dulçor de ter, não ter lugar,
Vos esperar me foi ventura,
Bate em meu peito o vosso andar.
Tradução de Cláudio Veiga
Filhos que são do meu cismar,
Teus passos, santa e lentamente,
Meu leito insone vêm buscar,
Em procissão fria e silente.
Que bom teu andar comedido,
Pessoa pura e dom sem luz!
Deus! Toda graça que eu convido,
Teu pé descalço a mim conduz!
Se, com teus lábios esboçados,
Para amainar o seu desejo,
Ao dono vens de meus cuidados
Ceder o pábulo de um beijo,
Urgir não queiras a ternura,
Dulçor de ter, não ter lugar,
Vos esperar me foi ventura,
Bate em meu peito o vosso andar.
Tradução de Cláudio Veiga
sexta-feira, março 09, 2007
Passo de número quatro (sem sacanagem: essa talvez seja a primeira e portanto melhor versão...)
OS PASSOS
Filhos do meu silêncio amante,
Teus passos santos e pausados,
Para o meu leito vigilante
Caminham mudos e gelados.
Que bons que são, vulto divino,
Puro ser, teus passos contidos!
Deuses! os bens do meu destino
Me vêm sobre esses pés despidos.
Se trazes, nos lábios risonhos,
Para saciar o seu desejo,
Ao habitante dos meus sonhos
O alimento feliz de um beijo,
Retarda essa atitude terna,
Ser ou não ser, dom com que faço
Da vida a tua espera eterna,
E do coração o teu passo.
Tradução de Guilherme de Almeida
Filhos do meu silêncio amante,
Teus passos santos e pausados,
Para o meu leito vigilante
Caminham mudos e gelados.
Que bons que são, vulto divino,
Puro ser, teus passos contidos!
Deuses! os bens do meu destino
Me vêm sobre esses pés despidos.
Se trazes, nos lábios risonhos,
Para saciar o seu desejo,
Ao habitante dos meus sonhos
O alimento feliz de um beijo,
Retarda essa atitude terna,
Ser ou não ser, dom com que faço
Da vida a tua espera eterna,
E do coração o teu passo.
Tradução de Guilherme de Almeida
quinta-feira, março 08, 2007
Sobrepasso
Muito bem: antes de postar o passo de número quatro (uma tradução de Les Pas feita pelo excelso poeta Guilherme de Almeida), cabem dois comentários:
Taianna: não sei se você vai continuar me lendo depois de tão corajosa declaração de amor, ops, quer dizer, de ódio, eu sei, não precisa se queimar mais: gostaria que você soubesse que eu te acho muito linda (você puxou mais sua mãe, que ainda mantém os encantos, ops, - sem xavecar a mãe junto, dessa vez é a irmã, seu animal!)
enfim, *pigarreando* você é uma pessoa muito bacana, divertida e espontânea: certamente terá boa sorte na vida e muitos caras vão ficar babando na sua cola - vê se controla sua possessividade com sua maravilhosa irmã, porque um pedacinho dela eu reivindico muito Ivan...
Em segundo e último lugar: que péssima tradução em versos que alguém anônimo(a?) colocou nos comentários da segunda postagem dessa série de sete passos: totalmente horrível: NÃO leiam, caso não queiram desaprender o que é poesia...
Amanhã tem mais - leiam o TECATATAU para mais versinhos supimpas, com a colaboração do degas aqui...
Taianna: não sei se você vai continuar me lendo depois de tão corajosa declaração de amor, ops, quer dizer, de ódio, eu sei, não precisa se queimar mais: gostaria que você soubesse que eu te acho muito linda (você puxou mais sua mãe, que ainda mantém os encantos, ops, - sem xavecar a mãe junto, dessa vez é a irmã, seu animal!)
enfim, *pigarreando* você é uma pessoa muito bacana, divertida e espontânea: certamente terá boa sorte na vida e muitos caras vão ficar babando na sua cola - vê se controla sua possessividade com sua maravilhosa irmã, porque um pedacinho dela eu reivindico muito Ivan...
Em segundo e último lugar: que péssima tradução em versos que alguém anônimo(a?) colocou nos comentários da segunda postagem dessa série de sete passos: totalmente horrível: NÃO leiam, caso não queiram desaprender o que é poesia...
Amanhã tem mais - leiam o TECATATAU para mais versinhos supimpas, com a colaboração do degas aqui...
terça-feira, março 06, 2007
Passo número três
Querida Too cool for high school: eu vi o que você fez e eu sei quem você é...
Assim, sem pisar no tomate ou entrar de sola, tampouco patinando em falso, nem ao menos deslizando na maionese e sequer caminhando em brasas após palmilhar em ovos, aí está a tua versão literal e literata em prosa, transcrita tão literalmente quanto possível... :
OS PASSOS
Santa, lentamente colocados, teus passos, crianças de meu silêncio, seguem mudos e congelados em direção ao leito de minha vigília.
Um ninguém puro, uma sombra divina: como são doces teus passos retidos!
Deus!... Todos os dons que eu adivinho vêm a mim sobre esses pés nus!
Se tu preparas, de teus lábios proeminentes, a nutrição de um beijo para apaziguar o habitante de meus pensamentos, não precipite essa ação terna (doçura de ser e de não ser), pois eu vivi de vos esperar, e meu coração não é senão vossos passos.
Assim, sem pisar no tomate ou entrar de sola, tampouco patinando em falso, nem ao menos deslizando na maionese e sequer caminhando em brasas após palmilhar em ovos, aí está a tua versão literal e literata em prosa, transcrita tão literalmente quanto possível... :
OS PASSOS
Santa, lentamente colocados, teus passos, crianças de meu silêncio, seguem mudos e congelados em direção ao leito de minha vigília.
Um ninguém puro, uma sombra divina: como são doces teus passos retidos!
Deus!... Todos os dons que eu adivinho vêm a mim sobre esses pés nus!
Se tu preparas, de teus lábios proeminentes, a nutrição de um beijo para apaziguar o habitante de meus pensamentos, não precipite essa ação terna (doçura de ser e de não ser), pois eu vivi de vos esperar, e meu coração não é senão vossos passos.
segunda-feira, março 05, 2007
Segundo Passo: traduza esta postagem nos comentários (pode ser só uma versãozinha em prosa, bem literalzinha, que o tio aqui adora tudo...)
LES PAS
Tes pas, enfants de mon silence,
Saintement, lentement placés,
Vers le lit de ma vigilance
Procèdent muets et glacés.
Personne pure, ombre divine,
Qu'ils sont doux, tes pas retenus!
Dieux !... tous les dons que je devine
Viennent à moi sur ces pieds nus!
Si, de tes lèvres avancées,
Tu prépares pour l'apaiser,
A l'habitant de mes pensées
La nourriture d'un baiser,
Ne hâte pas cet acte tendre,
Douceur d'être et de n'être pas,
Car j'ai vécu de vous attendre,
Et mon coeur n'était que vos pas.
Paul Valéry
Extrait dePoésies - Charmes
éd. Poésie/Gallimard
Tes pas, enfants de mon silence,
Saintement, lentement placés,
Vers le lit de ma vigilance
Procèdent muets et glacés.
Personne pure, ombre divine,
Qu'ils sont doux, tes pas retenus!
Dieux !... tous les dons que je devine
Viennent à moi sur ces pieds nus!
Si, de tes lèvres avancées,
Tu prépares pour l'apaiser,
A l'habitant de mes pensées
La nourriture d'un baiser,
Ne hâte pas cet acte tendre,
Douceur d'être et de n'être pas,
Car j'ai vécu de vous attendre,
Et mon coeur n'était que vos pas.
Paul Valéry
Extrait dePoésies - Charmes
éd. Poésie/Gallimard
quinta-feira, março 01, 2007
Pô: vale ri? (uma série de sete postagens)
Este é o primeiro dos sete passos, digamos assim (tolerem):
poeta, ensaísta, crítico e pensador francês -
nasceu em 1871 e faleceu em 1945 -
"A parvoíce não é o meu forte."
Quem é?
poeta, ensaísta, crítico e pensador francês -
nasceu em 1871 e faleceu em 1945 -
"A parvoíce não é o meu forte."
Quem é?
segunda-feira, fevereiro 26, 2007
domingo, fevereiro 25, 2007
Eu enlouqueceu mesmo, fazer o que... (revisado)
Muito bem:
o comentário deste Arlindo, que suponho não ser o "Magrão" do Bar do Torto, realmente é pertinente e merece esclarecimento.
*pigarreia, antes de prosseguir*
O fato é esse mesmo, traduzível nessa troca de palavras:
"Viu aquele garoto inteligente, que tem mestrado na USP?"
"... Aquele? Não!!"
"Pois é: enlouqueceu."
O que me espantou mesmo foi o "Ui!" que se seguiu.
Espantou tanto que vou mudar (já mudei) outra vez o nome do blog (Bakhtin explica), e tentarei colocar no cabeçalho a foto em que estou em cima da mureta do viaduto do Capanema (eu caminho pelas muretas dos viadutos: entenda).
Realmente, além de tudo, os poemas estão magrinhos e meio mais-ou-menos, então não demora (muito) irei postar umas traduções que recolocar-me-ão no rór dos prodígios mais promissores do meio acadêmico, bem como da cena cultural curitibana...
*suspiro profundo e muitas saudades, indeclináveis*
o comentário deste Arlindo, que suponho não ser o "Magrão" do Bar do Torto, realmente é pertinente e merece esclarecimento.
*pigarreia, antes de prosseguir*
O fato é esse mesmo, traduzível nessa troca de palavras:
"Viu aquele garoto inteligente, que tem mestrado na USP?"
"... Aquele? Não!!"
"Pois é: enlouqueceu."
O que me espantou mesmo foi o "Ui!" que se seguiu.
Espantou tanto que vou mudar (já mudei) outra vez o nome do blog (Bakhtin explica), e tentarei colocar no cabeçalho a foto em que estou em cima da mureta do viaduto do Capanema (eu caminho pelas muretas dos viadutos: entenda).
Realmente, além de tudo, os poemas estão magrinhos e meio mais-ou-menos, então não demora (muito) irei postar umas traduções que recolocar-me-ão no rór dos prodígios mais promissores do meio acadêmico, bem como da cena cultural curitibana...
*suspiro profundo e muitas saudades, indeclináveis*
quarta-feira, fevereiro 21, 2007
quinta-feira, fevereiro 15, 2007
DOIS POEMAS
Bem ali onde o Infinito acabaria de acabar
é que o Amor está mal começando
Ivan
***
VERSOS PARA A MÚSICA
(solicita um acompanhamento musical de execução dificílima, composto somente por e para virtuoses)
Quero versatilidade
Na volátil voz suave:
Quando zurzem Borboletas,
Bailam Panapanacéias,
Piriris de Pirilampos,
Garibaldos & Sacis
Ivan, Édson & Rodrigo
é que o Amor está mal começando
Ivan
***
VERSOS PARA A MÚSICA
(solicita um acompanhamento musical de execução dificílima, composto somente por e para virtuoses)
Quero versatilidade
Na volátil voz suave:
Quando zurzem Borboletas,
Bailam Panapanacéias,
Piriris de Pirilampos,
Garibaldos & Sacis
Ivan, Édson & Rodrigo
domingo, fevereiro 04, 2007
_ _ _ _ _ _ _ _ _ _
E TODOS POR UM
aí então, essa é uma postagem-forca, né, vocês já leram Os Três Mosqueteiros, então
em 1973, em Curitiba, nasceram três poetas:
Amarildo Anzolin [ Athos ]
Fernando Koproski [ Porthos ]
Mario Domingues [ Aramis ]
eu, Ivan [ Dartagnan ], nascido também neste ano da graça de 1973, desafio bambos os três para um combate singular, peculiar e reverso, nas lides da poesia, segundo os trâmites estéticos menos pernósticos [ só não vale acróstico ]
o foda é que nenhum dentre os três bloga -
...
aí então, essa é uma postagem-forca, né, vocês já leram Os Três Mosqueteiros, então
em 1973, em Curitiba, nasceram três poetas:
Amarildo Anzolin [ Athos ]
Fernando Koproski [ Porthos ]
Mario Domingues [ Aramis ]
eu, Ivan [ Dartagnan ], nascido também neste ano da graça de 1973, desafio bambos os três para um combate singular, peculiar e reverso, nas lides da poesia, segundo os trâmites estéticos menos pernósticos [ só não vale acróstico ]
o foda é que nenhum dentre os três bloga -
...
quinta-feira, janeiro 25, 2007
Minha casa que vai cair...
Imagens dentro de imagens,
umas olhando mais pras outras
mas cada qual vendo a si mesma:
cabelos e dedos ágeis, mensagens
telegrafadas de dentro de ostras
por um arco à lagarta e à lesma.
Taí: um poeminhocão com o perdão da imagem:
traduzindo os pixels,
sou eu fazendo um acorde de lá maior com meu arquinho,
diante da televisona
que está passando o videoclip de Catterpillar Girl
(é assim a grafia?),
do The Cure...
A troca da foto de cabeçalho será efetuada
em modesta homenagem à bela Gianna,
que vem transformando minha vida...
A cabeça anda fria e o coração, quente, queimando tudo e todas...
segunda-feira, janeiro 15, 2007
segunda-feira, janeiro 08, 2007
Postando demais de menos
Eu sei: eu sei que eu ando blogando de menos, flogando (um verbo gerundial, se é que não me entendem, como sempre) - e assim:
sei que já devia ter visto, lido e linkado o site de HQ do Plínio (dinossauro do amazonas ponto com ponto bê érre - ou .berre... , as you like it ou como queiram :P )
sei que também tinha que ter postado alguns poemas em parceria que (como sempre também inclusive) ando fazendo com Francisco Cardoso, Antonio Thadeu Wojciechowski, Plínio Gonzaga, Monica Berger...
eu devia voltar a ser um jacu de teta tarado da blogosfera (blogsfera?) e ler todos os meus blogs preferidos diariamente, principalmente os novos blogs da Natália (inda inlinkada...), o irrefragável Thadeu (e o Fraga? já tem blog ou nunca peida?), o Don Suelda (que eu inda não linkei), o cristal líquido da Suzana, o Meetza da Nina Cookie Monster, o Ratapulgo, a Luana (que aqui está com o link atrasado ainda), o Amplo Espectro do Béco Prado, et coetera e et coetera ad infinitum
sem nunca esquecer os dois blogs da Monica (especialmente o Zoe de Camaris, que eu nem te linko farinha de brinco... :P
mas sem fechar os parênteses, pósto agora um poema impromptu para o resto do ano...
Em dois mil e sete
vamos voltar a beber frapete
e pedir praquela boquinha
um bilboquete
(o que quer que o bilboquete seja, eu pelo menos estou certo que o quero...)
e assim
acasalados
lado a lado
do lado do lado direito do patinete
venderemos a internete
e inauguraremos uma banda
para acompanhar a estupenda e cúpida dança
da mais sapientíssima vedete.
sei que já devia ter visto, lido e linkado o site de HQ do Plínio (dinossauro do amazonas ponto com ponto bê érre - ou .berre... , as you like it ou como queiram :P )
sei que também tinha que ter postado alguns poemas em parceria que (como sempre também inclusive) ando fazendo com Francisco Cardoso, Antonio Thadeu Wojciechowski, Plínio Gonzaga, Monica Berger...
eu devia voltar a ser um jacu de teta tarado da blogosfera (blogsfera?) e ler todos os meus blogs preferidos diariamente, principalmente os novos blogs da Natália (inda inlinkada...), o irrefragável Thadeu (e o Fraga? já tem blog ou nunca peida?), o Don Suelda (que eu inda não linkei), o cristal líquido da Suzana, o Meetza da Nina Cookie Monster, o Ratapulgo, a Luana (que aqui está com o link atrasado ainda), o Amplo Espectro do Béco Prado, et coetera e et coetera ad infinitum
sem nunca esquecer os dois blogs da Monica (especialmente o Zoe de Camaris, que eu nem te linko farinha de brinco... :P
mas sem fechar os parênteses, pósto agora um poema impromptu para o resto do ano...
Em dois mil e sete
vamos voltar a beber frapete
e pedir praquela boquinha
um bilboquete
(o que quer que o bilboquete seja, eu pelo menos estou certo que o quero...)
e assim
acasalados
lado a lado
do lado do lado direito do patinete
venderemos a internete
e inauguraremos uma banda
para acompanhar a estupenda e cúpida dança
da mais sapientíssima vedete.
quarta-feira, janeiro 03, 2007
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